O que é a carência?
Nossos sentimentos são, muitas vezes, surpreendentes para nós, especialmente a forma como passamos por eles e como encaramos a vida a partir de uma visão que tenhamos de tais sentimentos. É certo que todos nós temos necessidades que se expressam de diversas formas: alguns desejam conversar, desejam ser ouvidos, acolhidos, desejam um olhar sincero, uma boa conversa. Porém, cada um de nós, a partir de nossa história, expressará isso de forma diferente. Muitas pessoas se questionam sobre o que é carência afetiva e como ela se manifesta em nossa vida e pode ser percebida.
O conceito de carência em si está relacionado com a falta ou privação de algo, neste caso, estamos falando de falta ou privação de afeto. O medo, especialmente da solidão e do abandono, podem ser frutos dessa carência afetiva, ou ainda, virem de um abandono emocional. Por vezes, sem perceber, esses fatos nos levam a relacionamentos e apegos nocivos em muitas situações.
A natureza humana nos leva à dependência, pois nascemos necessitando de alimentação e cuidados, tanto físicos quanto afetivos, porém, as experiências ao longo do nosso desenvolvimento definirão se tenhamos ou não nossa independência afetiva.
Ao contrário da carência, a independência afetiva (que nada tem a ver com egoísmo ou individualismo) permite que sejamos firmes ao escolher e decidir, que tenhamos autonomia em cuidarmos de nós, bem como nos responsabilizarmos pelos nossos acertos e erros.
Você pode perceber-se uma pessoa afetivamente carente se:
espera demais das pessoas e precisa sempre de alguém o apoiando e por perto, para que se sinta seguro;
precisa da aprovação de outras pessoas para fazer suas escolhas; precisa necessariamente de suporte emocional;
sente um vazio emocional que parece ser preenchido apenas pelo contato com outras pessoas, a ponto de não conseguir fazer nada desacompanhado.
Nem sempre as escolhas afetivas dependentes são conscientes e claras para quem passa por isso. Dependências podem se dar com coisas, objetivos, drogas, jogos, chegando às pessoas e palavras amigas. A dependência afetiva faz com que procuremos, exteriormente, o apoio e a proteção, para suportarmos os problemas vividos nos relacionamentos e nas situações sociais. Somos humanos e somos efetivamente influenciados o tempo todo. Vale lembrar que, como seres sociais que somos, efetivamente seremos influenciados e influenciaremos o tempo todo, e isso faz parte de nossa natureza.
Como posso mudar essa quadro?
Para que possamos mudar, ao percebermos que somos dependentes, é necessário que estabeleçamos limites em nossos relacionamentos e compreendamos que, muitas vezes, vivemos uma negação dos fatos e a ilusão de viver em situações fantasiosas.
A mudança virá quando conseguirmos assumir a responsabilidade em administrar nossas necessidades, atitudes, emoções e comportamentos, sejam eles positivos ou não, percebendo as vivências da raiva, do medo, da vergonha, da culpa e, com isso, comprometendo-se, portanto, com a mudança.
Para muitos, estar sozinho parece aterrorizante, mas é saudável que possamos conviver conosco e com nossas emoções, silenciando, percebendo nossas reações. A vivência num ambiente coletivo nos move, somos gregários, ou seja, vivemos em grupos, porém, se não conseguimos dar um passo sem aprovação ou suporte, é muito provável que sejamos carentes afetivamente.
Podemos comparar a carência afetiva com a fome: uma vez que estamos famintos, parece que tudo fica mais gostoso e que vamos comer muito mais do que o necessário. Porém, todo excesso sufoca e faz mal. A privação afetiva que vivemos pode nos conduzir a buscar reforços num apego demasiado e, por tanto, sempre é necessário rever nossa forma de relacionamento com o outro.
Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.
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