Quando eu entro neste caminho de descoberta da minha identidade feminina, abrem-se diversas portas, umas deixam-me com um grande sorriso no rosto, outras nem tanto, pois lidar com as minhas dificuldades não é tarefa agradável, nem fácil. Mas todas precisamos conhecer a nossa identidade, compreender a nossa personalidade, fazer o processo de aceitação de mim mesma, de onde vim e para onde vou.
A nossa identidade comporta vários aspetos: autoconhecimento (minha história, traumas, conquistas, pontos fortes e fracos, sonhos), sexualidade (ser homem ou mulher e a sua masculinidade ou feminilidade correspondente), afetividade (emoções, sentimentos, humor, paixões), as minhas reações (como reajo perante determinada situação ou quando surge uma emoção em mim, como lido com ela), os papéis que desempenho na sociedade (ser esposa, mãe, profissional). A espiritualidade é, igualmente, parte integrante da minha identidade, neste sentido, preciso ver-me como a bela criação de Deus, que foi (e é) pensada, desejada e amada por Ele. Deus pensou em mim e tem um plano de amor para mim. Não sou perfeita, tenho os meus limites, imperfeições, falhas, dificuldades, fraquezas, mas também potencialidades, qualidades, pontos fortes. E tudo isto somado faz de mim quem eu sou, a minha personalidade.
A nossa identidade é mais ou menos estática, tem uma parte que é concreta, outra que se cristaliza, mas é muito volátil. A personalidade não é a mesma aos 20 e aos 40 anos, sobretudo numa mulher. Devido à nossa fertilidade, ao nosso ciclo menstrual, temos várias fases ao longo da nossa vida que nos vão moldando fisiologicamente e isso reflete-se na nossa forma de estar e ser. Somos livres e despreocupadas antes da menarca (ou ansiosas porque ela nunca mais chega e ficamos em comparações com as amigas), com a menarca vamos amadurecendo a nossa forma de ser e estar no mundo, vêm os filhos, amamentações e mudamos a forma de sentir, estar e ser. Surge a menopausa e acontece a principal mudança, mudanças fisiológicas e hormonais que nos desinstalam e aparece a crise de maturidade. Cada mulher passa por esta fase de maneira muito própria, mas uma pessoa bem equilibrada, psicologicamente, aceita, de bom grado, que os anos passam e que cada época tem os seus aliciantes, os seus atrativos, desafios, alegrias, dificuldades e sujeições.
Segundo o psiquiatra espanhol, Enrique Rojas(1), com a maturidade deixamos o supérfluo e encontramos identidade pessoal. O psiquiatra refere, ainda que, a mulher atinge o equilíbrio afetivo perto dos 50 anos. É nesta idade que a mulher passa a utilizar as emoções secundárias (mais elaboradas, refletidas e menos imediatas). Também nesta fase, percebe-se
que as mulheres conseguem ter um domínio maior dos seus sentimentos e, desta forma, não ficam fixas a um acontecimento, mas conseguem “assistir” a ele com um autodistanciamento que lhes permite avaliar toda a situação e não agir no impulso.
Termino com as características femininas que Edith Stein (Santa Teresa Benedita da Cruz) considera serem primordiais, pois decorrem da nossa vocação originária, segundo ela, ser esposa e mãe, e propõe o seu modelo:
“A alma da Mulher deve ser AMPLA e ABERTA a tudo o que é humano. Deve ser cheia de PAZ, porque as fracas chamas se apagariam na tempestade; deve ser QUENTE para não enregelar as pequenas sementes; deve ser LUMINOSA para que, nos cantos escuros, não cresçam ervas más; deve ser RESERVADA porque as interferências externas podem pôr em perigo a sua vida íntima; deve ser VAZIA DE SI para deixar amplo espaço para os outros. Deve ser acima de tudo, DONA DE SI E DO próprio CORPO para que a sua personalidade esteja sempre pronta a servir em cada necessidade.”
(1) Rojas, E. (2009). Tu, quem és?
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