Missa e procissão de domingo marcaram ponto alto das festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que reúnem milhares de açorianos do arquipélago e da diáspora
O cardeal-patriarca de Lisboa convidou ontem os peregrinos das celebrações do Senhor Santo Cristo dos Milagres, na ilha açoriana de São Miguel, a reconhecer a figura de Jesus nas pessoas que sofrem.
“Vejamo-lo da mesma maneira nos nossos irmãos que sofrem, com os quais ele mais se assemelha e mais se identifica. Aí mesmo ele está à nossa espera”, declarou, D. Manuel Clemente, na homilia da Missa a que presidiu no campo de São Francisco.
O cardeal-patriarca recordou, a este respeito, os cristãos perseguidos, sem “liberdade” para celebrar a sua fé, a quem todos os católicos estão unidos.
O amor paga-se sempre com mais amor e, da parte do Senhor Santo Cristo, esse amor é absoluto”, acrescentou.
A intervenção sublinhou o “milagre” da presença de Jesus na história, capaz de levar a vida “onde só havia morte.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa observou que o Senhor Santo Cristo tem sido um “milagre” na vida de muitas pessoas, ao longo dos séculos.
“Esta imagem que aqui veneramos, do Senhor Santo Cristo dos Milagres, tem uma tal expressão que nos cativa profundamente a alma”, disse.
A imagem do ‘Ecce Homo’, acrescentou D. Manuel Clemente, representa uma “expressão total”, um “momento desfigurado e transfigurado” da Paixão e Ressurreição de Jesus.
“O amor de Cristo, o amor de Deus significa dar a vida”, observou.
O presidente das celebrações saudou todos os que chegaram às ruas de São Miguel com os seus pedidos e promessas, sublinhando a devoção ao Espírito Santo, capaz de “transfigurar” a existência humana, que se vive de forma particular no arquipélago dos Açores.
A celebração eucarística é um dos pontos altos da festa do Senhor Santo Cristo, cuja imagem vai percorrer esta tarde as ruas da cidade de Ponta Delgada, ao longo de várias horas, uma tradição secular na região.
O percurso passa pelos antigos conventos da cidade e algumas igrejas paroquiais, percorrendo ruas cobertas de tapetes de flores; em 2018, a imagem do Senhor Santo Cristo sai à rua com uma capa oferecida por um emigrante nos Estados Unidos da América, José António Tavares Estrela, da Ribeira Grande.
Este sábado, os peregrinos celebraram a mudança da imagem do Convento da Esperança para o Santuário, no Campo de São Francisco; a imagem foi acompanhada pela Irmandade do Senhor Santo Cristo, à guarda de quem ficará até este domingo à noite, bem como pelo presidente das Festas, o cardeal-patriarca de Lisboa, acompanhado do bispo de Angra e do reitor do Santuário.
No chamado “sermão da mudança”, o vigário-geral da Diocese de Angra, cónego Hélder Fonseca Mendes, deixou um apelo: “Só faz sentido esta manifestação silenciosa, sincera, serena, dolorosa, grave, densa, discreta e festiva se não quisermos deixar o `santo´ aqui, mas beber da santidade do seu espírito, que brotou do seu lado trespassado”.
“Ofereçamos a misericórdia e a compaixão na pessoa dos pobres que hoje na terra são humilhados, de modo que ao deixarmos este mundo, eles nos recebam nas moradas eternas”, acrescentou, numa intervenção divulgada pelo portal diocesano ‘Igreja Açores”.
Encerrado no coro baixo do Convento ao longo de todo o ano, o Santo Cristo – uma imagem do “Ecce Hommo”, com mais de 400 anos, oferecida às freiras clarissas pelo papa Paulo III – sai à rua apenas no quinto fim-de-semana a seguir à Páscoa e a devoção ao Santo Cristo foi introduzida em São Miguel pela madre Teresa D´Anunciada.
O ‘Igreja Açores’ refere que antes da mudança da imagem, centenas de peregrinos percorreram de joelhos o tapete de promessas em torno do Campo de São Francisco como forma de pagamento de promessas ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Alguns dos fiéis, homens e mulheres, optam por cumprir a promessa sozinhos, mas outros, carregando molhos de círios (velas), fazem o trajeto acompanhados por familiares ou por amigos, que caminham ao seu lado.
Na última madrugada, à meia-noite, a imagem voltou a sair da Igreja do Senhor Santo Cristo para a Igreja de São José onde decorreu a Vigília.
D. João Lavrador, bispo de Angra, presidiu à Missa dos doentes, pedindo aos peregrinos que façam “festa”, tendo em conta três dimensões: solidariedade, identidade e comunhão.
A celebração de sexta-feira decorreu, este ano, na Igreja de São José, para permitir a presença de um maior número de participantes.
Fonte: Agência Ecclesia
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