Depois de duas horas a responder às perguntas que os grupos de jovens presentes lhe prepararam, o Bispo da Diocese de Leiria-Fátima rematou de forma espontânea: “os jovens são… uma maravilha!”. Alguns receios que pudessem existir acerca da participação dos destinatários a quem se dirigem estes encontros, desapareceram desde o primeiro momento.
Quando, no dia 5 de janeiro, começou o primeiro encontro vicarial, para os jovens da vigararia de Leiria, já todas as cadeiras do salão da Quinta da Matinha, na paróquia dos Marrazes, estavam ocupadas. Seriam cerca de três centenas os presentes, sobretudo os mais novos a partir dos 15, 16 anos de idade e, a maior parte deles, pertencentes ao 10º ano da catequese das respetivas paróquias, bem como alguns grupos formais e informais de jovens e agrupamentos de escuteiros.
O encontro, conduzido de forma leve e bem disposta pelo diácono Rui Ruivo, iniciou com uma breve apresentação das paróquias presentes – que eram todas as que integram a vigararia – e continuou com a visualização uma história contada através da técnica de sombras chinesas que deram o mote ao ponto principal do programa da noite.
Conforme estava previsto, para a realização deste encontro, os diversos grupos de jovens de cada paróquia foram convidados a conversar temas propostos pelo guião orientador. Os sete temas foram distribuídos por cada comunidade paroquial que, após o debate, teria de formular uma pergunta dirigida ao Bispo diocesano. Portanto, o cardeal D. António Marto, respondeu a tantas questões quantas as paróquias que integram a vigararia de Leiria, que são nove.
Antes de responder às questões levantadas, D. António Marto manifestou o seu contentamento pela numerosa assembleia e lembrou que “não venho para fazer sermões nem para dar lições de teologia, embora tenha sido professor; venho para conversar convosco”.
Um cristão praticante é aquele que vai sempre à missa, ou aquele que pratica o bem todos os dias?
A esta questão, apresentada pelos grupos da paróquias dos Parceiros e da Azoia, o Bispo começou por falar da importância de estar ali para “tirar algumas teias de aranha da cabeça das pessoas”. “Às vezes está subjacente àquelas perguntas que o cristianismo se reduz a um conjunto de obrigações”, continuou, explicando que “na base da fé cristã está um acontecimento de amor”. E descreveu os três passos da fé cristã: o primeiro é conhecer Jesus; depois, o cristão é chamado a viver o amor fraterno e, em terceiro lugar, “quem quer ser discípulo de Jesus, é chamado a um estilo de vida próprio”. Assim, o cristianismo tem regras de vida que “nós resumimo-las nos mandamentos, que são 10 palavras que indicam o caminho para sermos plenamente humanos.
Neste ponto, D. António socorre-se das palavra de S. João (1Jo 4, 20) quando diz que “se alguém disser que ama a Deus, mas tiver ódio ao seu irmão, é um mentiroso”, para explicar que “não se pode medir o ser cristão apenas com o ir à missa ou só com as boas ações”. Também “há quem diga que para rezar não precisa de ir à igreja, o que é verdade”, continua, para dizer que é necessário participar nas celebrações comunitárias para se ser um bom cristão. E explicou esta questão, fazendo uma analogia com um casal de namorados que não se podem “limitar a trocar uns sms entre si; têm de se encontrar”.
Como seria de esperar, o Bispo também fez uma referência ao Papa Francisco, abordando a questão da hipocrisia do cristão “que vai à missa e odeia o irmão”, e disse que “mais vale ser um ateu coerente do que um cristão hipócrita”.
Como conclusão da resposta, “não podemos aferir só por um critério para se ser cristão”.
De que maneira se relaciona a meditação com a vida de fé?
Esta pergunta foi apresentada pela paróquia dos Pousos e ilustrada com uma intervenção da paróquia da Barosa com a vivência consumista da sociedade na época do natal, como exemplo de falta de espiritualidade.
D. António explicou que o ser humano deve crescer integralmente, do ponto de vista físico, psíquico e espiritual e fez uma comparação: “a espiritualidade funciona na nossa vida como o óleo para o motor”. “Se o óleo falta, o motor gripa; se não houver um cultivo do interior, da nossa fé, ficamos raquíticos, ficamos anões do ponto de vista da fé”, desenvolveu. Os presentes ficaram a saber que existem vários tipos de espiritualidade na Igreja, de acordo com a situação de vida de cada um, como, por exemplo, “a espiritualidade matrimonial que ajuda na vivência da fé das famílias”, sendo que “tudo é passível de ser meditado e rezado”. A espiritualidade cristã, é diferente de outras espiritualidades, como por exemplo “o yoga que procura um repouso interior e recorre às energias da natureza: a espiritualidade cristã recebe a energia de Deus”.
Mais uma vez, o D. António recorre ao exemplo de um casal de namorados, para dizer que “a oração é a expressão de amizade de quem gosta de estar com quem nos ama” e “Deus é a fonte de todo o amor”.
O que é que acreditar em Deus acrescenta à nossa vida?
À pergunta da Barreira, o Bispo de Leiria-Fátima começou por, mais uma vez, “tirar algumas teias de aranha”: “pensa-se muito a Igreja como uma empresa multinacional que tem a sua sede em Roma, com filiais em todo o mundo e, no final o povo é a clientela; outras vezes vê-se como uma organização não-governamental; para outros, é uma agência da moralidade, o polícia dos costumes; e outros vêem-na como uma estação de serviços religiosos”. D. António afirma que “isto não é a Igreja; isto é uma perversão”. Para ele, a Igreja é uma comunidade de fé e “agora, temo de ver o que é que a fé acrescenta à nossa vida”.
“Ter fé acrescenta um grande amor que vem ao nosso encontro, que nos habita, que nos acompanha, que nos levanta quando caímos, que ajuda a sarar as nossas feridas quando caímos espiritualmente; ter fé, dá um sentido completamente diferente à nossa vida”, explicou o Bispo, afirmando que “Deus olha para cada um de nós como filho e filha, não como pecadores”.
Qual a postura da Igreja para com as pessoas com estilos de vida mais duvidosos?
A questão levantada pela paróquia das Cortes, teve como ponto de partida uma história tratada e debatida em grupo, na qual, umas das personagens teria tido uma vida anteriormente pouco recomendável. A esta pergunta, que integrava o tema da relação da Igreja com as questões éticas, D. António respondeu que o Papa Francisco “tem uma intuição muito apurada, quando afirma que o mundo de hoje é um mundo partido”. Para dar resposta a esta situação, propõe que a Igreja de hoje seja “hospital de campanha, uma Igreja que sai às periferias humanas e existenciais, que sara as feridas e os feridos”. Para o Cardeal, “a Igreja deve acolher sem juízos e abrir caminhos de regeneração; não deve ser uma Igreja de condenação, mas de misericórdia”.
Esta temática acaba por se tornar sensível, por “estamos a assistir a uma mudança de época, de cultura; um dos sintomas é questão da ideologia do género que, embora na sua génese tivesse aspetos positivos, está agora a degenerar-se” por olhar para a sexualidade humana de uma forma invertida ou pervertida por reduzi-la a “uma construção social e dependente das escolhas pessoais”. Lembra o prelado que “a natureza é um dom que também deve ser cultivado”, mesmo apresentando casos “muito excepcionais em que há desconformidades entre o físico e o psíquico, havendo necessidade de intervenção médica”.
O que está a Igreja disposta a fazer para tornar-se mais acolhedora, alegre e atrativa para os jovens?
À questão levantada pela paróquia da Cruz da Areia, e porque o tempo se estendia para além do previsto, o D. António foi direto: “a resposta é oferecer-lhes um conjunto de oportunidades para poderem crescer na fé como, por exemplo, experiências em movimentos como os Convívios Fraternos, o Escutismo, a Juventude Operária Católica, a Juventude Franciscana, entre outros”. O Bispo esclarece que “os jovens precisam de se encontrar em grupos” e, para além disso, sugere a participação regular em retiros adequados para eles, e considera que “a peregrinação é uma experiência bela de quem sai de si”. Outra possibilidade bastante válida é o voluntariado no serviço aos mais necessitados e, aí, para além da Cáritas, têm o grupo missionário Ondjoyetu.
Como é que Deus influencia a nossa vida se Ele não existe fisicamente?
A pergunta da paróquia de Leiria foi uma oportunidade para o D. António exortar os jovens presentes a porem os seus talentos ao serviço dos outros e, dessa forma, usarem as três linguagens , “da razão, do coração e das mãos”, como instrumentos da presença de Deus. Por se estar na véspera do Dia de Reis, o Bispo explicou que os reis magos “são os representantes da humanidade à procura de Deus e atentos aos Seus sinais”. Esses sinais podem ser “uma luz interior ou um testemunho de uma pessoa”.
Como é que os jovens de hoje podem viver a fé nos dias de hoje?
À última pergunta, feita pela paróquia dos Marrazes, D. António pediu para “viver com coerência, alegria e coragem aquilo em que acreditamos, sem proselitismos”. Afirmou explicitamente que “o jovem cristão não vive a violência, seja de que tipo for, e está atento aos outros, pronto para dar a mão”. Mais do que ninguém, “o jovem consegue transparecer o entusiasmos da fé e deixa-se cativar por ele”.
A finalizar o encontro, para além de umas questões muito rápidas que pediam respostas de “alta pressão” ao D. António, fez-se uma breve oração e houve convívio, acompanhado de alguns aperitivos, preparado pela organização.
Impressões
Gostei muito de ouvir o senhor Bispo contar aquela história do acrobata, em que toda a gente dizia que acreditava nela, mas apenas o filho é que confiou nele e conseguiu andar na corda bamba. (Daniela, Cortes)
Fixei aquela ideia do senhor Bispo, em que cita São João, e que disse que os crentes não são bem crentes, quando vão à igreja todos os domingos, mas odeiam o próximo. O Papa também diz uma coisa parecida. (Alexandre Moura, Pousos)
Achei importante afirmar que os jovens são essenciais na comunidade e que a Igreja tem dados passos importantes para cativar os jovens. Valeu a pena. (Margarida, Barreira)
Guardei aquela parte em que D. António fala da fé, que é uma luz que toca nos nossos corações. Toda a gente devia escutar as palavras do nosso Bispo. (Hugo, Parceiros)
Ser cristão reflete-se no nosso comportamento do dia a dia; é é preciso dizer que somos, mas fazer o que acreditamos. (Afonso, Parceiros)
Para acreditar é necessário encontrar Deus dentro de nós, mesmo quando nos sentimos perdidos. (Pedro, Parceiros)
Próximo encontros
Vigararia de Ourém: 11 janeiro (sexta), no Centro Pastoral de Caxarias, às 21h30
Vigararia das Colmeias: 12 janeiro (sáb), na Memória, às 21h00
Vigararia da Marinha Grande: 18 janeiro (sexta), na Escola Calazans Duarte, na Marinha Grande, às 21h30
Vigararia dos Milagres: 19 janeiro (sáb), no Centro Pastoral de Santa Eufémia, às 21h30
Vigararia de Monte Real: 26 janeiro (sáb), em local a definir , às 21h00
Vigararia de Fátima: 8 fevereiro (sexta), no Centro Pastoral Paroquial de Fátima, às 21h00
Vigararia de Porto de Mós: 16 fevereiro (sáb), em Porto de Mós, às 21h00
Vigararia da Batalha: 23 março (sáb), no Centro Pastoral da Batalha, às 21h00
Fonte: Diocese Leira-Fátima
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