O que levou esse homem a duvidar tão veementemente? Seria mesmo a incredulidade uma parte tão forte em seu perfil?
Diante da atitude do discípulo Tomé, ao fato da Ressurreição do Cristo, nós, muitas vezes, temos ouvido, e assim tomamos partido, que esse discípulo representa a falta de fé. Quem não se lembra da sua frase? “Se não vir, nas mãos d’Ele o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no Seu lado, não acreditarei!” (cf. Jo 20, 25).
O que levou esse homem a duvidar tão veementemente? Seria mesmo a incredulidade uma parte tão forte em seu perfil? Vejamos!
Tomé, um dos doze apóstolos de Jesus, sem grande destaque nos escritos bíblicos, ganha importância no fim do Evangelho de São João. Jesus “conhecia aqueles que chamou” (cf. Jo 13, 18) e não quis nenhum sem motivo. O Mestre convidou Seus discípulos, sabendo de suas potencialidades e defeitos, características fundamentais para a missão que cada um seguiria. Em suas pequenas participações narradas, encontramos pontos importantes da personalidade do Israelita Tomé, um homem ousado.
No trecho do Evangelho citado, bastante conhecido, temos a presença de Tomé, que participou ativamente do fato narrado. O contexto é o seguinte: Jesus morreu na cruz, fora sepultado e, no domingo, as mulheres voltaram do túmulo noticiando que o corpo de Cristo não estava mais lá. Em seguida, Jesus apareceu para Maria Madalena, que logo levou a notícia para todos: “Eu vi o Senhor”.
No versículo 19, ao anoitecer daquele dia, no domingo, Jesus apareceu para todos eles que estavam reunidos, de portas fechadas e com medo. O texto em questão também nos mostra a ausência de um deles, Tomé, que não estava com os apóstolos. Onde estaria ele? Ele não se escondeu, e enquanto os outros se fecharam, ele estava fora. Não que seja melhor, mas mostra que não temia dar as caras em público.
Tomé também é, antes, citado em outras passagens do Evangelho de João, e suas participações mostram uma característica forte: ele não era de fugir. No Evangelho de São João, capítulo 11, temos a narração da morte e ressurreição de Lázaro. Jesus decidiu voltar à Judeia, mas Seus discípulos se mostraram temerosos, pois acabaram de ameaçá-lo na mesma região. Mas Tomé se coloca, ousadamente, com o Mestre: “Vamos nós também para morrermos com Ele” (cf. Jo 11,16). O apóstolo não teme seguir o Mestre e morrer com Ele.
Tomé confia em Jesus, ama-O e não tem reservas com o Mestre. Seu desejo de segui-Lo fica claro quando o Cristo fala da casa do Pai e de um lugar que irá preparar para eles. Vemos Tomé questionar Jesus: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” (cf. Jo 14, 5).
Talvez, ele não tenha parado na experiência vivida por seus irmãos, e queria fazer sua experiência própria.
Com todo o amor que sentia por Jesus, o desejo de estar ao lado d’Ele e, assim como todos os outros, a culpa por tê-Lo abandonado em Sua agonia, Tomé não aceitará apenas ouvir de seus irmãos “Nós vimos o Senhor”. Para ele, não bastava ouvir, porque não queria parar na experiência feita por Pedro, João e os outros. Tomé não aceitava apenas ouvir a narração de Madalena, que contou com detalhes o momento em que se encontrou com o Mestre. Tomé, ousadamente, expressa seu desejo profundo. Quem sabe, além da dúvida nas palavras de seus irmãos, ele revela a agonia pessoal de sua alma? Ele quer fazer a sua experiência, e ouvir seus companheiros fez aumentar seu desejo.
Tomé é um homem que não tem medo, um homem que sabe o que quer. Não apenas isso, mas também pede ao Senhor, expõe-se e, com isso, se compromete. Um homem a quem Deus não deixa de ouvir e atender.
Muitos ouvem a experiência de pessoas que, verdadeiramente, viram o Senhor e se encantaram com Ele, encheram-se de desejo de viver a mesma coisa, pois um testemunho encheu o coração deles.
Como Tomé, você precisa pedir a Deus aquilo de que necessita para crer mais. Esse homem não permitiu que sua fé estacionasse, pois, vendo sua debilidade, sua descrença, coloca diante de Deus seu coração. Homens que não têm reservas diante do Senhor são os que tocam na intimidade do Rei. Tomé deu a Deus seus limites e Ele o fez adentrar em Sua intimidade.
- Primeiro dia do funeral marcado pela trasladação do corpo de Bento XVI para a Basílica de S. Pedro - 3 de Janeiro, 2023
- Legado teológico de Bento XVI está a ser traduzido para português - 3 de Janeiro, 2023
- Canonista explica protocolo do funeral de Bento XVI - 2 de Janeiro, 2023