O nome desse lugar é solidão, mas, no jardim onde ela se encontra, há um convite que você ainda não o aprendeu a ler
O coração de uma mulher é imenso, pois se ele fosse pequeno não seria de uma mulher, mas ainda de uma menina aprendendo a viver. O coração de uma mulher é cheio de riquezas e nuances secretas feito uma renda renascença, dessas que precisamos de tempo para admirar, acompanhar, entender, cuidar. Como a renda mais delicada do Nordeste do Brasil assim é a alma feminina: necessita de bons tratos e delicadeza para descobrir o seu melhor.
Ninguém imagina a quantidade de riquezas e pensamentos, sonhos e sentimentos que povoam uma alma feminina. Já é famosa a nossa capacidade de fazermos muitas coisas ao mesmo tempo e, ainda assim, andarmos de unhas feitas, cabelo escovado, sobrancelha no lugar e sapato que combina com bolsa e cinto.
Sim, só uma mulher arranca risos se equilibrando na corda bamba da realidade atual. Essas mulheres maravilhosas, que não só atuam no terceiro turno, como também são incansáveis a qualquer hora quando se trata de seus amores mais sagrados. Pois há hora para uma mulher atender seu filho doente? Não… Ela não aguentaria colocar um amor tão grande em segundo plano. E se o faz, a culpa a visita e ela logo trata de se redimir, ainda que em segredo ou sacrifício secreto. Mulheres que amam e esperam sofrem.
Ninguém pode imaginar tudo o que ocupa uma alma feminina. Poderíamos até pensar que se esconde um pedido em todas as delicadezas femininas e em quase todas as suas mínimas atitudes. Mas nem toda mulher pede o que realmente anseia ou mesmo admite que precisa de algo. E nessa hora ela espera que alguém escute o que ela nunca diz, pois não há surpresa mais realizadora para uma mulher do que quando ela recebe algo sem ter precisado pedir. Mas a vida não é sempre assim. E muitos silêncios são vividos por milhares e milhares de mulheres. Muitas angústias são engolidas e até violências são admitidas, pois “antes mal acompanhada do que só”.
É um mar silencioso, escuro e profundo esse lugar dentro de uma mulher. Seu coração sangra e ela realmente acha que está sozinha. Bem ali há um abismo entre o sentimento e a realidade. A solidão é quase um fantasma, diário e insistente, e mesmo que essa mulher seja casada, tenha filhos, netos, sobrinhos, ela ainda se sente só. Parece que, no meio desse silêncio aterrorizante, não há ninguém, ninguém que fale a sua língua, perceba sua necessidade ou apenas a escute com paciência e veracidade. Parece que ninguém é capaz de compreender o seu interior como você tanto deseja ser compreendida. E parece que nesse mar imenso não há nem sequer uma mão estendida a você. E você se sente só…
O nome desse lugar é solidão, mas, no jardim onde ela se encontra, há um convite que você ainda não o aprendeu a ler. Essa solidão dolorosa corrói sua alma e a distrai, tirando sua atenção do Olhar mais nobre e amoroso da face da Terra. E a voz que a engana a vai deixando aos pedaços nas relações e repartida pelo caminho. Parece que você nunca está feliz em lugar algum, pois nunca está inteira com ninguém.
Um dia Deus deu uma companheira a Adão, mas Ele lha deu enquanto ele dormia… Imagino que, durante toda a sua vida, Adão tenha tentado compreender Eva, inspirado pelo espanto que ele deve ter tido ao vê-la pela primeira vez. Ele deve ter passado o resto da sua vida tentando construir um ponte de palavras até esse coração misterioso feminino, mas talvez nunca o tenha conseguido.
Nesse lugar imenso na alma feminina, onde a alma dói e tudo tem sabor de solidão, há um convite, sagrado e raro, pois só uma mulher – que sabe ficar sozinha e reservada em seu quarto em liberdade – também sabe ser muito bem acompanhada. A Bíblia nos diz que não é bom que o homem esteja só, então não é bom que a mulher esteja só também. Mas não é bom que se escolha uma vida solitária sem sentido, mas sim uma solidão na medida certa. Este, sim, é um convite sagrado para que essa mulher traga em si um terreno fértil para uma vida muito mais frutífera e fecunda.
Às vezes, nós, mulheres, esperamos que um grande amor venha finalmente preencher esses vazios e esses lapsos silenciosos da vida desse mar imenso, que é nosso interior feminino, sedento de amor e sentido. No entanto, ser humano nenhum é capaz de preencher essa solidão misteriosa, que marca, com beleza rara, cada rosto feminino. Nenhum ser humano é capaz de abarcar essa imensidão, chamada ao amor, que é a alma de uma mulher.
Há uma grande diferença entre expectativa e esperança. Expectativa é essa projeção ao olhar e à vida de alguém, para que essa pessoa possa suprir de amor esse lugar tão expectante dentro do seu ser feminino. Esperança? Esperança: eu a deposito só em Deus.
O único remédio para sua solidão de mulher é Deus.
Só Ele.
Deus.
Ninguém mais.
Ziza Fernandes é cantora, compositora, musicoterapeuta, professora e mosaicista. Estudou piano por 12 anos no Conservatório Santa Cecília, Maringá – PR, aperfeiçoando-se com o professor Paulo Giovanini, na Universidade Estadual de Maringá.
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