A espiritualidade de São Bento nos dias de hoje

O monge é aquele que busca ser o que seu nome indica – um homem de Deus

O Mosteiro da Transfiguração apresenta, a seguir, de maneira sintética, alguns temas essenciais da vida monástica, buscados, constantemente, em nossa comunidade. Cremos que esses métodos sejam de grande importância para ajudar no aprofundamento dos cristãos que buscam viver seu batismo com radicalidade, bem como no discernimento vocacional daqueles que ainda estão buscando viver essa mesma radicalidade.

1. As fontes da vida monástica beneditina

O monaquismo situa-se dentro da vida religiosa pelo fato de que é um meio de buscar a perfeição cristã. Ao mesmo tempo, distingue-se da vida religiosa por seu caráter especificamente contemplativo – como vivido em nossa casa.

Papa Paulo VI recordou, repetidas vezes, que o monge tem, na Igreja, uma função especial, distinta, que consiste em ser presença, sinal que exerce uma secreta fascinação, unicamente pelo fato de ser um contraste, cujo exemplo provoca espanto pela forma de estar presente junto de Deus e entre os homens, que é a oração. A vida monástica exerce “irradiação” e tem o papel de dar testemunho de uma presença invisível e lembrar ao mundo, constantemente alienado de Deus, que essa presença que transcende todas as realidades terrestres é viva e atuante em nosso meio.

O monge é aquele que optou por viver com radicalidade o seu batismo, é um cristão comum, que vive, no mosteiro, a vida cristã comum, mas na maior perfeição, em plenitude. Deixa de lado tudo mais, esquece-se de todos os interesses para ser um cristão e viver à procura de Deus. É aquele que busca ser o que seu nome indica – um homem de Deus.

2. As ocupações da vida beneditina

Opus Dei

“Portanto nada se anteponha ao Ofício Divino” (RB 43,3.). Com estas palavras de São Bento, podemos entender a importância do Ofício Divino na vida do monge. Ao lado do trabalho e da Lectio Divina, a celebração comum do Ofício Divino é uma das principais atividades do monge, é parte de uma vida inteira consagrada a Deus. De fato, para o monge, o amor de Deus se traduz, antes de tudo, pela oração contínua da qual o Ofício Divino é o ato principal e o mais forte sustentáculo. O Ofício também influi grandemente em sua espiritualidade, pois o monge se alimenta da Palavra de Deus e permite que esta se torne parte de sua vida.

Juntamente com a Igreja, Corpo Místico de Cristo, oferece a Deus o louvor e a santificação da Igreja por meio desse culto. O Opus Dei torna-se parte da oração do próprio Cristo ao Pai, onde, por meio dos salmos, cânticos e leituras tiradas das Sagradas Escrituras, a própria Palavra se torna presente. Melhor do que qualquer obra comunitária, mostra o testemunho específico dado por nossa vida à Igreja e ao mundo.

Lectio Divina

Cada ato do monge deve ser uma resposta à Palavra de Deus contida nas Sagradas Escrituras, voz viva de Deus, que lhe fala cotidianamente. A esse encontro diário com a Palavra, damos o nome de Lectio Divina, que, literalmente, significa “leitura divina”. É uma leitura orante da Palavra, uma leitura espiritual, pois se dá no Espírito e pelo Espírito. A Lectio Divina é, antes de tudo, um diálogo com Deus, íntimo, pessoal e, ao mesmo tempo, eclesial.

Na Lectio, o monge ouve a Palavra de Deus e a Ele responde na oração, mas, para que isso ocorra, é necessário uma atitude de escuta, humildade e abertura do coração. Ela se divide em alguns passos principais: leitura, meditação, oração e contemplação.

Trabalho

“São verdadeiramente monges quando vivem do trabalho das mãos, como nossos pais e os apóstolos” (RB 48,8.). O trabalho é importante ao monge, a fim de que ele possa sustentar-se, como diz-nos São Bento, e garantir a sua separação do mundo. É uma forma de penitência, tendo sido a primeira e principal forma de penitência imposta por Deus ao homem. É o fruto de suas mãos oferecido a Deus no sacrifício eucarístico. É um testemunho, na medida em que mostra ao mundo que o trabalho confere dignidade ao homem, ajudando-o também a desenvolver virtudes sociais e morais, indispensáveis para uma vida de oração.

O trabalho é um instrumento nas mãos do monge para ser utilizado em sua missão específica de restaurar tudo em Cristo. Ele, unido a Cristo, redime o mundo por seu trabalho, consagra-o a Deus e prepara a nova terra que haverá depois da Ressurreição final.

3. As colunas da espiritualidade da vida monástica

Uma das colunas da espiritualidade da vida monástica é a fé, que se traduz na busca de Deus. Um dos critérios principais para São Bento, para ver se um candidato pode ingressar na vida monástica, é este procurar a Deus: “Que haja solicitude em ver se procura verdadeiramente a Deus, se é solícito para com o Ofício Divino, a obediência e os opróbrios” (RB 58,7). Da vida de fé resultam as demais colunas da espiritualidade da vida monástica, que são a humildade e a obediência.

Os monges buscam viver a humildade para seguir Jesus Cristo “manso e humilde de coração” (Mt 11,29). A humildade é o caminho mais seguro para podermos realizar, diariamente, a nossa vida de conversão a Deus. É seguindo esse caminho de ‘abaixamento’ de Jesus, que poderemos crescer em caridade e ser exaltados por Deus: “Pois todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” (Lc 14,11).

Outra coluna importante da espiritualidade da vida monástica é a obediência. Os monges buscam vivê-la para seguir Cristo, que se fez “obediente até à morte – e morte de cruz!” (Fl 2,8). O monge busca obedecer ao Abade (RB 2) e aos irmãos (RB 72,6) para poder cumprir, em tudo, a vontade de Deus. A obediência é um instrumento valiosíssimo em nosso caminho de conversão a Deus. Pela obediência, aprendemos a abandonar as nossas vontades próprias e aderir à vontade do Senhor, que sempre quer o melhor para cada um de nós. A obediência é um ato de fé, de que Deus me guia por meio do meu superior. A obediência não exclui a liberdade daquele que obedece, mas a pressupõe. Somente alguém inteiramente livre pode abandonar-se nas mãos do Pai, procurando cumprir a vontade d’Ele. A fé, a humildade e a obediência são, pois, as colunas sobre as quais podemos construir o edifício da vida monástica.

Fonte: Monges Mosteiro da Transfiguração
Santa Rosa – Rio Grande do Sul