Como Santo Agostinho concebe a amizade?
O tema da amizade é abordado por Santo Agostinho numa das suas principais obras, as ‘Confissões’. É destacado, em vários momentos, nesses escritos, que os seus relacionamentos mais sinceros e profundos tiveram como ponto de partida a verdadeira amizade com o amigo dos amigos: Deus.
O bispo de Hipona traz uma novidade em seu tempo ao unificar o conceito filosófico de amizade com a sua concepção cristã. Com isso, Santo Agostinho concebe a amizade, com seus princípios arraigados em Deus, que se dá por meio do Espírito Santo e gera frutos de caridade.
Amizade com Deus
Conforme Santo Agostinho, a amizade deve estar intimamente ligada a Deus, porque Ele é o primeiro Amigo. Em ‘Confissões’, ele versa que “bem-aventurado o que te ama, Senhor, e ama ao amigo em Ti, e ao inimigo por amor a Ti; só não perde o amigo quem tem a todos por amigos Naquele que nunca se perde”. Esse amor acontece, verdadeiramente, quando temos por fundamento o vínculo de amizade com Deus, pois, para construir uma amizade verdadeira é preciso ser amigo d’Ele.
Ama-se Deus ao amar um amigo, e só se ama de verdade um amigo quando se ama a Deus. E para amar e ser amigo de Deus “posso sê-lo agora mesmo”, disse Santo Agostinho.
Contrário à verdadeira amizade, a Bíblia, em Tiago 4, 4 exorta que “todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus”, onde, da mesma forma, Santo Agostinho acentua que a amizade com este mundo é adultério contra Deus. Claro que, aqui não se trata do mundo como criação do Criador, mas no sentido de tudo que se opõe ao Senhor.
Amizade com os amigos
Santo Agostinho, ao se referir a um poeta, que chamou ao amigo de “metade da sua alma”, exprime sobre a relação profunda de amizade. Chega a dizer que “sentiu” que sua alma e a de seu amigo não eram mais que uma em dois corpos. Uma forma simbólica para falar da união de uma verdadeira amizade, em que não se quer viver pela metade por ausência do amigo.
A amizade é uma relação de alma para alma, visando sempre a caridade em Deus, pois não deve ser um relacionamento de interesses egoístas, mas de gratuidade. Porque é uma preciosidade, já que, um “amigo fiel é poderoso refúgio, quem o descobriu, descobriu um tesouro.” (Eclesiástico 6,14).
Amizade Agostiniana para hoje
Uma forma de viver os ensinamentos de Santo Agostinho sobre a amizade é ter claro em nossos relacionamentos, que só se consegue ser amigo de verdade, quem é amigo de Deus.
A Sagrada Escritura afirma que “amigo fiel não tem preço, é imponderável o seu valor. Amigo fiel é bálsamo vital e os que temem o Senhor o encontrarão.” (Eclesiástico 6, 15-16) E Santo Agostinho fala que “a amizade é tão verdadeira e tão vital, que nada mais santo e vantajoso pode-se desejar no mundo”.
Concluindo, no livro das ‘Confissões’ ele diz: “Eu amava a meus amigos desinteressadamente, e também sentia que eles me amavam com o mesmo desinteresse”. A amizade passa por um amor maduro e desinteressado entre os amigos, cujo maior interesse é que ambos sejam amigos de Deus.
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