A presidente da Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pessoas, dos Institutos Religiosos em Portugal, disse hoje que o tráfico humano ainda é visto no país como algo “distante” ou que “não existe”, quando “não é verdade”.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, num dia em que a Igreja Católica promove uma jornada de oração e reflexão contra o tráfico de pessoas, a irmã Maria Manoel realça que há ainda “um longo trabalho de sensibilização e motivação a fazer nesta questão”, que tem de envolver todos os setores sociedade.
“É preciso humanizar a sociedade a todos os níveis e este é um deles, para que se perceba que estamos a falar de pessoas, seres humanos iguais a cada um de nós, não são mercadoria a ser traficada e comercializada. E portanto não nos podemos dar ao luxo que isto aconteça em pleno século XXI”, frisa aquela responsável.
A presidente da Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pessoas recorda que “ainda no início deste ano foi desmantelada uma rede de tráfico humano no Alentejo”, no âmbito da operação ‘Campo Seguro’, da Guarda Nacional Republicana.
Neste caso, dezenas de pessoas provenientes de países como o Nepal, o Senegal e o Paquistão estavam a ser vítimas de exploração laboral e utilizadas na prática de furto de produtos agrícolas.
Segundo a irmã Maria Manoel, a exploração laboral é mesmo “o rosto mais visível” do tráfico humano em Portugal.
Os últimos dados divulgados pelo Observatório do Tráfico de Seres Humanos, do Ministério da Administração Interna, referentes a 2015, referem 193 casos sinalizados um pouco por todo o país, mas no entanto apenas foram confirmadas 30 vítimas.
A presidente da Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pessoas nota que é muito difícil detetar e responsabilizar as redes que estão por trás deste género de crime organizado e que são poucas as condenações em tribunal.
“Requer muita burocracia, provas concretas de que houve de facto tráfico, muitos requisitos que são difíceis de conseguir”, admite a irmã Maria Manoel.
O tráfico de mulheres para efeitos de exploração sexual é outra face do tráfico humano em Portugal, ainda que “a uma escala menor”.
“Elas vêm na ilusão de conseguir trabalho, um trabalho bem remunerado e depois são postas na prostituição”, acrescenta a religiosa ligada à Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus.
A Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pessoas, ligada à Igreja Católica, foi criada há 10 anos pela Conferência dos Institutos Religiosos em Portugal, de modo a envolver mais as estruturas católicas na missão de “denunciar, formar e sensibilizar” as pessoas para a necessidade de acabar com o tráfico humano.
Para a irmã Maria Manoel, têm sido dados “passos significativos” nesse sentido e na busca de soluções para as vítimas, num trabalho em rede que envolve congregações como as Irmãs Adoradoras, os Padres Espiritanos ou a Companhia de Jesus, neste caso através do Serviço Jesuíta aos Refugiados.
A jornada deste ano de oração e reflexão a favor das vítimas do tráfico humano alerta de modo especial para o problema do tráfico de crianças em todo o mundo, com o lema “Elas são crianças, não são escravas”.
A Comissão de Apoio às Vitimas de Tráfico de Pessoas vai promover entre 17 e 19 de fevereiro em Lisboa, no Seminário do Verbo Divino, um seminário dedicado a esta matéria.
Fonte: Agência Ecclesia.
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