Às celebrações da Peregrinação Internacional Aniversária deste 13 de junho preside o Núncio Apostólico, D. Ivo Scapolo. Ele que reforça a importância de colaborarmos e estarmos cada vez mais em sintonia com o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria para o plano de salvação da humanidade à semelhança dos pastorinhos.
Irmãos e irmãs no Senhor
A proclamação da Palavra de Deus deste XI Domingo do Tempo Comum constitui um novo momento de graça, uma ulterior ocasião para entender como se vai estendendo o Reino de Deus. Trata-se da realização do grande Plano de Salvação que Deus Pai está a realizar mediante os méritos da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo e através da ação purificadora, dinamizadora e santificadora do Espírito Santo.
Na realização deste grande Plano de Salvação teve e continua a ter um papel importante a Virgem Maria, Mãe de Jesus. Ela colaborou eficazmente mediante a sua humildade e docilidade com a Vontade de Deus. De facto, no encontro com a sua prima Isabel, proclama com alegria e gratidão as grandes coisas que Deus Omnipotente estava realizando na sua vida.
Ela, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, continua a colaborar para ajudar-nos a cumprir na história da humanidade a missão que seu Filho Jesus deixou aos seus Apóstolos, de anunciar o Evangelho e de batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É no marco deste grande plano de Salvação que Deus quis que a Virgem Maria interviesse muitas vezes na história da Igreja aparecendo em diferentes Países e Continentes como, por exemplo, no caso de Guadalupe e Lourdes, La Salette e Kibeho. Como Mãe da Igreja Ela ama-nos e toma cuidado de nós; por isso Ela vem ao nosso encontro para nos indicar o caminho de conversão a seguir e os instrumentos a utilizar para ser dignos, um dia, de entrar na Casa de Deus Pai.
Também as aparições que a Virgem Maria realizou aqui em Fátima há 104 anos fazem parte desta missão que a Virgem Maria está a realizar, pedindo também a nossa colaboração. Como pediu aos três pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta, que colaborassem para a salvação das almas, sobretudo para a conversão dos pecadores, assim também hoje nos pede a mesma colaboração. Também nos pede que rezemos muito, sobretudo, a oração do Rosário para conduzir as mentes e os corações a uma cada vez maior sintonia com os sentimentos com os quais ela colaborou no grande Plano de salvação.
Somos, portanto, chamados a oferecer a nossa colaboração tendo em consideração a dupla mensagem que nos transmitem as duas parábolas do Evangelho de São Marcos que acaba de ser proclamado: a parábola da semente de trigo que cresce sozinha e a do grão de mostarda. A primeira parábola põe em evidência o dinamismo da semente que, uma vez lançada à terra, germina e cresce, de noite e de dia, quer o camponês durma, quer esteja acordado. O agricultor lança a semente confiando na força da semente e na bondade do terreno. Esta parábola evidencia, portanto, a obra divina da criação e da redenção, que se realiza mediante um dinamismo profundo, maravilhoso e misterioso. Chamados nós também pela Virgem Maria a colaborar na obra de salvação, devemos oferecer o nosso serviço com humildade, generosidade e entusiasmo, sabendo que o resultado final não depende de nós, mas da força de salvação que flui, irrefreável e incessante, do mistério da cruz e ressurreição de Jesus. É Deus que salva, porém, pede a nossa colaboração que é constituída por tudo o que podemos fazer de bem e de bom: orações, sacrifícios, penitências, serviços, doações, testemunhos, iniciativas corajosas e criativas, obras de misericórdia corporal e espiritual. Embora os frutos não apareçam como, quando e quanto esperávamos, temos de confiar em Deus, convencidos de que a nossa colaboração não foi inútil. O importante é poder reconhecer honestamente, frente a nós mesmos e frente a Deus, ter feito verdadeiramente tudo o que podíamos e devíamos. O problema é que dificilmente podemos dizer isto; de facto o amor verdadeiro chama-nos a dar sempre mais, a fazer sempre mais e melhor. O Senhor chama-nos a uma colaboração que é objetivamente secundária, porque Ele é o Autor principal; porém, ao mesmo tempo, a nossa colaboração deveria alcançar os máximos níveis de perfeição, exigidos por um coração cheio de amor. Viver e promover a devoção ao Coração Imaculado de Maria significa, portanto, deixar que o fogo do amor que enche o seu coração possa expandir-se também no nosso coração, a fim de também nós podermos difundir este incêndio de amor.
A segunda parábola utiliza também a imagem de uma semente: um grão de mostarda. Embora seja “a menor de todas as sementes”, dela nasce um rebento que cresce até se tornar a “maior de todas as plantas da horta”. O elemento que carateriza esta parábola é a desproporção entre a pequenhez da semente e a grandeza final da planta. É a desproporção entre a pequenhez inicial e a grandeza final, expressa muito bem nas palavras de Maria no Magnificat: O Senhor “pôs os olhos na humildade da sua serva” e depois “o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas”. É o modo de atuar de Deus que exalta os humildes (Lc 1,52); pelo qual os últimos serão os primeiros (Mt 20,16); que escondeu as grandes verdades aos sábios e entendidos e as revelou aos pequeninos (cfr. Mt 11,25). Desta maneira ninguém pode vangloriar-se. Quem sou eu para me vangloriar, se tudo é recebido de Deus? É significativo o facto de a Virgem Maria querer aparecer a três crianças – com a maior de apenas dez anos – , felizes de pastorear as ovelhas, crianças que não sabiam ler. Podemos dizer que os três pastorinhos são como o grão de mostarda que – a pesar da sua fragilidade e pequenhez, não obstante tantas ameaças, incompreensões, dificuldades e obstáculos, graças à obra do Espírito e à ajuda maternal da Virgem Maria – estiveram na origem da realidade deste Santuário de Fátima onde tanta gente, como neste momento, vem abrigar-se à sua sombra, buscando consolação, força, graças para si e para os seus entes queridos. Tanta gente vem a este lugar para perceber no seu coração as mesmas palavras que Nossa Senhora disse a Lúcia neste mesmo lugar, em 13 de junho de 1917: “Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus”. Trata-se de palavras que despertam e reavivam a esperança cristã e nos recordam como esta nossa vida é uma peregrinação para a casa do Pai, na qual esperamos poder entrar se formos considerados dignos. É uma grande verdade que também o Apóstolo Paulo nos recordou hoje na sua Segunda Carta aos Coríntios: “Todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que receba cada qual o que tiver merecido” (2 Cor 5, 10). “Por isso – como afirma São Paulo – nos empenhamos em ser-lhe agradáveis, quer continuemos a habitar no corpo, quer tenhamos de sair dele” (2 Cor 5,9). A este respeito o Papa Francisco comentou da seguinte maneira: “A vida de um servidor do Evangelho desenrola-se animada pelo desejo de agradar ao Senhor em tudo” (fim de citação) (Homilia do 5 de novembro de 2020). O desejo de agradar ao Senhor não deve nascer do medo, mas do amor. Aquele que ama verdadeiramente, preocupa-se por agradar de muitas maneiras à pessoa amada. Foi o que fez, de maneira perfeita, a Virgem Maria com Deus. É o que também nós podemos e devemos fazer, se o nosso coração entrar em sintonia cada vez mais intensa com o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.
Ao finalizar esta reflexão, não posso deixar de mencionar o facto de hoje a Igreja celebrar a memória de Santo António de Lisboa ao qual eu também estou particularmente afeiçoado, uma vez que concluiu a sua peregrinação terrena na minha cidade de Pádua, onde é muito amado e venerado. Ele, que dedicou à Virgem vários sermões, dirigiu-lhe esta breve e linda oração que cada um é convidado a fazer própria:
“Senhora nossa, única esperança nossa, suplicamos-te que ilumines as nossas mentes com o esplendor da tua graça, que nos aqueças com o calor da tua visita e que nos reconcilies com o teu Filho, para que possamos merecer chegar ao esplendor da sua glória. (…) A Ele a honra e a glória pelos séculos eternos.
Ámen.”
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