“Não se metam com uma mulher que sabe o que quer!” com certeza já ouviu esta frase. Uma mulher quando sabe o que quer, nada nem ninguém a detém, porque trazemos, em nós, este desejo de lutar por algo que sabemos que será um bem para nós ou para os nossos. Uma mulher que veja os seus filhos em perigo, fica cega para o resto e, se preciso, dá a sua vida por eles.
A Teresa, nome fictício, está numa reunião de trabalho a resolver problemas de última hora. Ainda nesse dia, tem de dar uma formação aos novos elementos da sua equipa, que foram contratados ontem, e preparar a sua viagem a Itália, daí a dois dias, onde vai ver novas propostas para a empresa que representa. No final desse dia, chega a casa exausta, encomenda uma pizza para todos, ajuda a filha nos trabalhos de casa, deita-a e vai dormir.
Quando regressa da viagem a Itália, traz uma prendinha para a sua filhinha de 6 anos, que a recebe, muito entusiasmada, e diz “Mãe, gostei muito, mas o que mais gostava era que tivesses estado aqui. Tenho tantas saudades tuas!”, o coração da mãe aperta-se e abraça-a a chorar. O pai, que assiste à cena, nada diz, no momento.
Chega a noite e, depois da pequena adormecer, o marido chama a Teresa para conversar e diz-lhe que ela anda a trabalhar imenso, quase não a vêm em casa e não só, ele percebe-a cansada. Ele compreende que a esposa faz o que gosta, e isso é que a mantém enérgica para toda a quantidade de trabalho que desempenha, mas, também, a vê cansada e dói-lhe ouvir os desabafos da filha, das saudades que tem da mãe.
Teresa fica a pensar naquelas palavras e começa a ter uma visão diferente da sua vida. Começa a rezar nesse sentido e a pedir a Deus o discernimento para essa situação.
Certo dia, toma uma decisão ‘Vou despedir-me!’ e partilha com o marido, que desde logo, acolhe a sua decisão e a tranquiliza em relação ao futuro. O marido não ganha rios de dinheiro, mas confiam na providência divina, pois percebem que da forma como a Teresa está, estão a perder qualidade de vida familiar.
Teresa enfrenta a sua família alargada, com a sua decisão e, é apelidada de louca, que não está a pensar no futuro da filha, “Vais viver de que?”, “Vais ser dona de casa? Isso não é para mulheres determinadas como tu!”, entre muitas outras acusações, insinuações. No trabalho, não acolhem de imediato esta decisão, pois a Teresa dá a vida lá e nunca diz não a ficar até a mais tarde, ou abdicar das suas horas extra.
Por fim, Teresa toma a decisão, ainda que aos olhos dos outros pareça pouco prudente, ela está convicta, serenamente segura, da sua decisão, de que os riscos vão valer o bem maior que irá obter: qualidade de vida, tempo com a sua família.
A Teresa vem-nos mostrar a virtude da audácia, que pode habitar uma mulher. A Teresa teve receio, claro, mas não se deixou vencer por ele e, portanto, teve a ousadia de tomar uma decisão, aparentemente, “louca”, ilógica, por reconhecer como valioso a sua família e o tempo que lhe dedica.
“A audácia é uma paixão de apetite irascível, que acomete a luta para dominar algum mal ou para alcançar algum bem (…) é necessário a prudência, mas também que a paixão seja forte. Indubitavelmente, a pessoa pode chegar a encontrar uma motivação que lhe convença para que seja audaz na perseguição do bem” (retirado do livro “A educação das virtudes humana e a sua avaliação de David Isaacs).
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