O Parlamento Europeu debateu ontem, na reunião final antes das férias de Verão do Comité das Relações Exteriores, a questão da violência na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
Com a intervenção de diversos deputados, nomeadamente os portugueses Paulo Rangel, Isabel Santos e Carlos Zorrinho, a reunião serviu para o Parlamento Europeu escutar pela responsável da região pelo Serviço Europeu de Acção Externa, Notarangelo Erminia, as medidas que estão a ser planeadas no auxílio a este país africano que enfrenta uma grave crise humanitária na sequência de ataques violentos e constantes por grupos terroristas que se afirmam afiliados no Daesh, o Estado Islâmico.
Todos os intervenientes sublinharam a “situação dramática” que se vive em Cabo Delgado, com centenas de mortos e mais de 200 mil deslocados. Erminia referiu mesmo que haverá, neste momento, “mais de 500 mil pessoas afectadas por esta tragédia humanitária”.
Paulo Rangel, vice-presidente do PPE, o Partido Popular Europeu, eleito pelo PSD, sublinhou na sua intervenção que Cabo Delgado está perante “uma ofensiva islamita radical oportunista”, e que a União Europeia deveria equacionar o seu envolvimento nesta questão, auxiliando o Estado moçambicano. “É fundamental que a União Europeia se envolva neste conflito e possa apoiar algumas formas de pacificação militar, seja por forças africanas seja por forças das nações unidas.”
Isabel Santos, do Partido Socialista, referiu a “complexidade da situação” e deixou o alerta para o facto de esta violência terrorista ter “um forte potencial de alastramento no país e em toda a região”. Carlos Zorrinho, presidente da Delegação do Parlamento Europeu à Assembleia Parlamentar África-Caraíbas-Pacífico/União Europeia, também usou da palavra, defendendo que a questão da violência em Cabo Delgado deve ser debatida “no próximo plenário”, e que se trata de “uma situação muito complexa”. No entanto, deixou claro que é preciso passar das palavras aos actos. “Temos mesmo é que agir”, disse Zorrinho.
No final da reunião, Paulo Rangel falou com a Fundação AIS/ACN e salientou que esta reunião foi “o primeiro passo para a União Europeia colocar novamente Moçambique no centro das suas preocupações humanitárias”, sublinhando ainda que o encontro serviu para “que as vítimas em Moçambique saibam que não estão sozinhas”.
O Vice-Presidente do PPE referiu que a questão de Cabo Delgado, com os sucessivos ataques por grupos armados “é de enorme gravidade”, deixando uma crítica ao trabalho de Notarangelo Ermina, do Serviço de Relações Externas da União Europeia, por “não ter informações actualizadas” sobre o que se passa na região em Moçambique.
“Tive a sorte – disse Paulo Rangel – de receber todas as informações da Igreja Católica local (através da Fundação AIS/ACN).” O Vice-Presidente do Partido Popular Europeu afirmou ainda que o bispo de Pemba confirmou “que os ataques terroristas quebraram o bom relacionamento tradicional com os muçulmanos locais”, o que é também um sinal preocupante. Rangel afirmou, por fim, que iria ser convocado o Alto Representante para as Relações Exteriores, Josep Borrell “para uma próxima reunião”.
Esta onda de violência teve início em Outubro de 2017 e agravou-nos nos tempos mais recentes. A Igreja Católica não tem escapado aos ataques terroristas. No domingo passado, dia 5 de Julho, a Fundação AIS dava conta da destruição da Igreja Paroquial de Mocímboa da Praia durante o último ataque jihadista a esta vila no último fim-de-semana de Junho. Mas já antes houve outros incidentes graves, nomeadamente o ataque à Igreja centenária em Nangololo ou à Missão dos Monges Beneditinos, que provocou, inclusivamente, a fuga dos religiosos que tiveram de se esconder nas matas.
A Igreja Católica está muito preocupada com esta imparável onda de violência e a consequente crise humanitária. Os Bispos moçambicanos, reunidos em Conferência Episcopal entre os dias 9 e 13 de Junho, expressaram a sua indignação face ao que chama de “actos de verdadeira barbárie” e de “atrocidades” contra as populações, pedindo “uma resposta urgente a esta tragédia”.
D. Luiz Fernando Lisboa, Bispo de Pemba, que está no epicentro deste problema, tem procurado alertar o mundo para a realidade “cada vez mais dramática” que se vive na região. Em declarações sucessivas à Fundação AIS, o prelado tem sublinhado que a questão humanitária é premente. “O alojamento não é suficiente para todos porque aqui em Pemba, por exemplo – explicou recentemente D. Luiz Fernando Lisboa à AIS –, as famílias estão a receber [os desalojados], mas há também grandes acampamentos sem as condições necessárias. Não há tendas suficientes, não há comida que chegue, porque é muita gente.” A agravar esta situação, e porque agora “é a época do frio”, como sublinhou o Bispo, faltam “mantas, e cobertores” para distribuir a todas as pessoas.
A Igreja Católica está fortemente empenhada no apoio a todas estas pessoas que, tendo fugido das aldeias e vilas por causa dos ataques jihadistas, estão agora de mãos vazias dependendo totalmente na ajuda fornecida pelas autoridades e pela diocese.
Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal
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