D. Guo Xijin foi desalojado recentemente da residência onde vivia, juntamente com alguns sacerdotes, depois de as autoridades terem cortado a água e a electricidade, invocando “razões de segurança”. Um letreiro colocado no edifício explica que este não cumpre com as normas de segurança relativas a incêndios e por isso teve de ser encerrado.
Para a agência de notícias Asia News, que relata o caso, trata-se, isso sim, de “um gesto de pressão e raiva” contra o prelado e os padres que se têm negado a aderir à igreja “independente”. Segundo a Asia News, D. Guo é “vítima” do acordo assinado entre a China e o Vaticano para a nomeação dos bispos, acordo que transformou a diocese de Mindong “numa espécie de ‘projecto piloto’ para a sua aplicação”.
De facto, na China, existe a Associação Patriótica Católica controlada pelo governo, e a chamada Igreja Clandestina, não oficial, que congrega todos os cristãos que permanecem fiéis ao Papa e ao Vaticano. Para a assinatura do referido acordo, o Vaticano colocou D. Guo Xijin como bispo-auxiliar de D. Vincenzo Zhan Silu, que era o prelado indicado pelo governo de Pequim para a Diocese de Mindong, retirando-lhe a situação de excomunhão em que se encontrava.
O problema é que, e isso poderá ajudar a compreender a razão que levou as autoridades a desalojarem D. Guo Xijin da casa que habitava, este bispo, que sempre foi fiel ao Papa, tem-se recusado a aderir à estrutura da igreja organizada pelo Partido Comunista e que depende exclusivamente das autoridades de Pequim.
Segundo a Asia News, tal como D. Guo se recusou a assinar a sua adesão à estrutura governamental da Igreja Católica na China, “muitos padres” têm seguido pelo mesmo caminho e, “nos últimos dias”, escreve a agência de notícias, “pelo menos cinco paróquias foram fechadas”, invocando-se também imperativos de segurança. Entre essas paróquias, estão a de Fuan, com mais de 10 mil fiéis, e a de Saiqi, com cerca de 3 mil.
Entretanto, a Human Right Watch denunciou a existência de “um sofisticado sistema de censura na Internet” na China que é alarmante nas suas implicações no que diz respeito aos direitos humanos.
No relatório conhecido no início de Janeiro, esta organização acusa o regime de Pequim de “construir um estado de vigilância tecnológica Orwelliano” e um “sofisticado sistema de censura na Internet”, destinado a “silenciar críticos”, e aponta o dedo à repressão dos muçulmanos uigures. Calcula-se que as autoridades chinesas tenham sob detenção, nos chamados campos de reeducação, cerca de 1 milhão de membros desta minoria muçulmana na província de Xianjiang. Pequim tem justificado estas medidas extremas de opressão étnica e religiosa com a necessidade de combater o terrorismo.
A repressão das autoridades chinesas face à minoria uigur, ou a outras comunidades religiosas, tem merecido uma ampla condenação a nível internacional. Em Outubro do ano passado, o presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz da Igreja Católica em Portugal manifestou também a sua desaprovação no que diz respeito à perseguição religiosa à comunidade cristã na China.
Numa entrevista à Fundação AIS, Pedro Vaz Patto referiu que “as violações da liberdade religiosa” se acentuaram na China, dando como exemplos a proibição da “educação religiosa de crianças e adolescentes e a sua entrada em lugares de culto, o uso de tecnologia mais avançada para o controlo da população”. Estas medidas foram classificadas por Vaz Patto como “próprias de um Estado totalitário que pretende controlar todos os domínios da vida das pessoas, incluindo os mais íntimos, como é a religião”.
O responsável pela Comissão Nacional de Justiça e Paz considerou que entre as principais vítimas destas medidas do Estado chinês estão “sobretudo as comunidades, de várias religiões, que escapam ao controlo estatal”, tendo especificado que, entre os que “mais sofrem essa repressão”, estão “as comunidades clandestinas cristãs, ou não cristãs”, mas também se referiu aos muçulmanos uigures.
“É evidente que já houve uma resolução do Parlamento Europeu a denunciar esta situação – disse Vaz Patto, referindo-se à existência de cerca de 1 milhão de prisioneiros uigures em Xianjiang –, mas não teve grandes consequências. O pretexto é o combate ao terrorismo, mas não podemos associar toda a população, só por ser muçulmana, ao terrorismo”, acrescentou.
Pedro Vaz Patto disse ainda que “não existe” por parte dos cristãos, nem de qualquer outra religião, “algum propósito de combater politicamente o Estado”, mas “a repressão, a privação das liberdades religiosas atinge todas as religiões”. Por tudo isto, concluiu que “não podemos ignorar a situação da China no que diz respeito aos direitos humanos”.
Relatório da Liberdade Religiosa
Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal
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