Homilia Missa 13 maio
Cardeal Luis Tagle, Arcebispo de Manila
Missa da Solenidade de Nossa Senhora de Fátima (Ap 11, 19a; 12, 1-6a, 10ab; Rm 8, 28-30; Lc 11, 27-28)
Caros irmãos e irmãs em Cristo, damos graças ao nosso Deus amoroso por nos ter aqui reunido como comunidade ou família de fé nesta Solenidade de Nossa Senhora de Fátima. O tema bíblico desta peregrinação anual é retirado da Primeira Carta de Pedro: “Sois povo de Deus”. Esta palavra realiza-se agora na nossa assembleia. Somos, de facto, povo de Deus, reunidos pelo Espírito Santo, alimentados pela Palavra do Senhor, pela Eucaristia e pela
missão comum.
O Evangelho de hoje relata a reação das pessoas que viram as coisas belas e maravilhosas que Jesus realizou. Ter-se-ão, provavelmente questionado quem seriam os pais deste homem tão talentoso. E do meio da multidão uma mulher grita: “Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!”. Por outras palavras, “como deve ser feliz e abençoada a tua mãe por ter um filho como tu”. São palavras que habitualmente se dizem quando os estudantes terminam os estudos com distinção, quando uma pessoa tem sucesso na sua profissão ou quando alguém se torna padre, irmã religiosa ou bispo. As pessoas dizem: “os teus pais têm sorte; devem estar muito orgulhosos de ti”. E, de facto, Maria foi abençoada por ser a mãe de Jesus. Toda a mãe é abençoada por trazer no seu ventre vida humana e por alimentar essa vida de forma a tornar-se num ser humano bom. A bênção de Maria chama-se Jesus.
Mas Jesus realça um outro aspeto da maternidade de Maria, que para Ele é a origem da sua verdadeira felicidade. Ele respondeu: “Felizes, antes, os que escutam a Palavra de Deus e a põe em prática”. A afirmação de Jesus é semelhante às palavras que Isabel dirigiu a Maria na visitação: “Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor”. Jesus e Isabel sabem que a maternidade de Maria não consiste apenas em dar à luz um filho biologicamente e cuidar bem dele. A maternidade de Maria foi um ato de fé, ao aceitar o convite de Deus para ser a mãe do Filho de Deus. Maria tornou-se mãe pela fé, do mesmo modo que José se tornou pai de Jesus pela fé e pela obediência. Maria foi a serva obediente cuja total entrega e disponibilidade a Deus fez dela a Mãe do Filho de Deus. A sua resposta ao Anjo Gabriel retrata essa bênção: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Deus abençoou Maria escolhendo-a entre muitas mulheres para conceber o Filho de Deus. A resposta de fé que Maria deu à palavra de Deus, pondo em prática essa fé, tornou completa a bênção de Deus. Ela é a mãe de Jesus na fé e na carne. Maria e José educaram Jesus na observância da fé judaica, levaram-no a Jerusalém para a festa da Páscoa. Jesus estudou e meditou as Escrituras e, através delas, descobriu a sua missão. Ia à sinagoga regularmente; rezava por longas horas em lugares isolados; amava e servia os pobres, os excluídos, os estrangeiros; mostrou o rosto de Deus aos pecadores. Maria transmitiu ao seu Filho a sua fé e a sua forma de escutar e guardar a Palavra de Deus.
Maria mostra-nos o caminho para encontrar a verdadeira bênção.
O nosso mundo de hoje tem imagens de uma vida “abençoada”: muito dinheiro, o último modelo de roupas, carros, perfumes e aparelhos eletrónicos, fama, influência, segurança. Estes não são desejos maus, mas Maria, nossa Mãe, faz-nos parar e fazer uma autoavaliação. Será que a fé ainda tem um lugar importante no nosso desejo de uma vida boa? Consideramo-nos abençoados quando abdicamos dos nossos planos, como Maria e José, para que a vontade de Deus se possa concretizar? Será que os pais alimentam os seus filhos não apenas com comida, medicamentos e formação, mas também com a Palavra de Deus, os Sacramentos e o serviço aos pobres? Será que os pais assumem com seriedade a responsabilidade de educar os seus filhos na fé? Será que os pais e os mais velhos dão bom exemplo às crianças e aos jovens em como viver a fé nas decisões e ações da vida quotidiana?
Como modelo e exemplo da Igreja, a nossa Santíssima Mãe ensina toda a Igreja a encontrar o caminho da verdadeira bênção. São Paulo recorda-nos que, como Maria, fomos todos escolhidos por Deus, cada um com um chamamento ú nico. Tal chamamento é a maneira de Deus nos abençoar. O nosso chamamento é a bênção de Deus. A fim de completar a bênção do chamamento de Deus, escutemos a palavra de Deus e ponhamos a Sua vontade em prática.
Deste modo, o legado que deixaremos não será apenas sucesso, conquistas, estabilidade financeira e boa reputação, mas deixaremos como legado a pessoa de Jesus, a Sua palavra, a Sua presença, o Seu amor pelos abandonados e pelos que sofrem, a Sua solidariedade com os famintos, os sedentos, os despidos, os sem-abrigo, os estrangeiros e os prisioneiros.
Mesmo enfrentando dificuldades e perseguições, seremos como a Mulher do Livro do Apocalipse, resplandecente de glória porque cuidou do seu Filho. Não há maior bênção do que ser chamado por Deus a servir Jesus, a fazer Jesus conhecido, amado e servido. Isto só acontecerá se, como Maria, estivermos atentos à Palavra de Deus, se recebermos Jesus na nossa vida e se vivermos como Jesus viveu. Ámen.
PALAVRA AO DOENTE – 13 de Maio de 2019
Querido irmão e querida irmã que te encontras doente.
Há já alguns anos que venho aqui, neste momento em que Jesus está presente na Eucaristia, partilhar contigo uma palavra de consolo e de conforto em nome da igreja que somos, neste Santuário de Fátima.
Deste vez pensei em partilhar contigo, que aqui estás ou que nos acompanhas pelos meios de comunicação social, o que tenho aprendido convosco. Sim, o que aprendi convoco, com o vosso sorriso sereno, apesar da doença; com o vosso olhar de paz, apesar das dores e da angústia, da solidão que a situação de doença pode trazer.
Convosco, aprendi a amar e a confiar em Deus, apesar das circunstâncias difíceis da vida.
Como o exemplo daqueles três jovens, de que nos fala o livro de Daniel do AT, prestes a morrerem queimados, numa fornalha ardente. Diziam: sabemos que Deus nos pode livrar deste fogo mas, ainda que não o faça, não teremos outros deuses…
Vocês, com o amor e entrega com que viveis a situação de doença e de sofrimento em que vos encontrais, tornais vivas as palavras daqueles jovens: sabemos que o Senhor nos pode curar, mas ainda que o não faça, é nele que continuamos a confiar. Sabemos que o Senhor nos pode livrar desta doença, mas ainda que o não faça, nós continuamos a amá-lo!
Quanta maturidade de fé tenho encontrado em tantos de vós, meu irmão e minha irmã que te encontras doente. Pode ser que, aqui em Fátima, tenhas aprendido a generosidade da Jacinta.
Impressiona quando a ouvimos dizer à Lúcia: “Olha, diz a Nossa Senhora que sofro tudo… sofro tudo para converter os pecadores, pela paz no mundo, pelo Santo Padre.” Sim, é este amor a Jesus e a quem sofre que dá um horizonte maior à tua vida marcada pela dor.
E quando vos vejo a sofrer em silêncio, sem vos queixardes, penso que aprendestes com o Francisco, a guardar no silêncio do coração de Deus, algumas dores que só Ele pode entender…
E ainda que vos sintais tristes, ou que ausência de sentido em certos momentos de desânimo e de solidão seja muito forte, gostaria de vos dizer que contamos com a presença e a oração da irmã Lúcia… Nos seus escritos, fui encontrando uma frase que a irmã Lúcia repetia algumas vezes, perto de cada dia 12 e 13 de maio: “Sei que muitos peregrinos vão a caminho de Fátima cantando, rezando e fazendo penitência.
Espiritualmente vou com eles, oro com eles, canto com eles e uno ao seu sacrifício o meu…” […] “uno-me às orações de todos e de cada um [dos peregrinos], pedindo para todos um aumento de fé, de esperança e de amor, a cura para os doentes, a paz para as suas consciências, o remédio para os seus males”.
Que consolação saber que os Santos Pastorinhos e a Serva de Deus Lúcia de Jesus, nos acompanham agora do céu, intercedendo por cada um de vós, querido irmão e querida irmã que estás doente.
Creio que o que eles mais desejam para cada um de vós é a certeza de que o Coração Imaculado de Maria nos acompanha.
Já bastante idosa, e também ela doente, a Lúcia escreveu a propósito destas palavras de Nossa Senhora:
“O Coração Imaculado de Maria é o meu refúgio e o caminho que me conduzirá até Deus…” Aqui está: a vida da minha alma, a força do meu coração, e a alegria do meu peregrinar sobre a terra”.
Querido irmão e querida irmã que te encontras doente, sabemos que somos amparados pelo teu testemunho de fé vivida no sofrimento, sentimo-nos fortalecidos pela entrega da tua vida. Assim, com profunda gratidão rezamos para que esta certeza, de que és acompanhado pela Senhora de Coração Imaculado, seja “a vida da tua alma, a força do teu coração e a alegria do teu peregrinar nesta terra” ainda que doente.
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