Esta peregrinação assinala a IV Aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos, a única de seis que ocorreu fora da Cova da Iria, no Monte dos Valinhos, e fora de um dia 13, mas no dia 19 de agosto de 1917.
D. Filomeno do Nascimento Dias, arcebispo de Luanda desde 2014, é o presidente da Peregrinação Internacional Aniversária de agosto. O arcebispo de Luanda preside igualmente à Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, pertence à Ordem dos Capuchinos e é doutorado em Teologia pela Universidade Lateranense de Roma.
Esta peregrinação reúne migrantes de todas as partes do mundo porque tem a particularidade de integrar a Peregrinação Nacional dos Migrantes, que este ano peregrina a Fátima adoptando o lema do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante “Livres de escolher: se ficar ou emigrar”. Esta peregrinação está integrada na 51ª Semana das Migrações, promovida pela Obra Católica Portuguesa para as Migrações.
A Peregrinação Internacional Aniversária de agosto, que mobiliza sempre muitos emigrantes portugueses que se encontram de férias em Portugal decorre, como é tradição, iniciada há 83 anos por um grupo de jovens da Juventude Agrária Católica de 17 paróquias da então Diocese de Leiria , com a tradicional oferta de trigo. Em 2022, foram oferecidos ao Santuário de Fátima 5.727 Kg de trigo, 3.377,5 litros de azeite e 344 Kg de farinha. Consumiram-se, no Santuário de Fátima, aproximadamente, 11 mil hóstias médias, 27 hóstias grandes, cerca de 1565 000 partículas e 420 partículas para celíacos. Foram celebradas 2545 missas do programa oficial.
Entretanto após a recitação do terço seguiu-se a procissão para o Altar do Recinto de Oração dando inicio à Missa Internacional.
Na homilia D. Filomeno trazendo a integração da Peregrinação Nacional dos Migrantes neste Peregrinação Internacional de agosto referiu que “as migrações são um fenómeno complexo” em que “somos chamados a ter o maior respeito pela dignidade de cada migrante“. Para o bispo, citando o Papa Francisco, “significa acompanhar e gerir os fluxos, construindo pontes e não muros, para uma migração segura e regular: Onde quer que decidamos construir o nosso futuro – no país onde nascemos ou fora dele – o importante é que lá haja sempre uma comunidade pronta a acolher, proteger, promover e integrar a todos, sem distinção nem deixar ninguém de fora”.
O Arcebispo de Luanda tendo em conta o evangelho proclamado em que Jesus acalma a tempestade “é uma chave para entendermos a expressão típica do evangelista S. Mateus, “homens de pouca fé“.”
D. Filomeno refere que Jesus vai em direção à barca e este episódio reflete o “clássico comportamento dos cristãos: exigir de Deus uma prova que garanta que tudo o que Ele propõe nos seja aceitável, nos seja credível”, ou seja ser cristão significa residir entre a fé e a dúvida.
Entretanto o arcebispo reforça “torna-se-nos então visível a verdadeira face da fé: não é um verdadeiro ou falso; não é um sim ou não. A fé é qualquer coisa que é sustentada no tempo, que deve durar, uma espécie de espera, de capacidade de resistir diante das dificuldades. É totalmente distinta de uma experiência meramente cognoscitiva.
Por isso, não basta defini-la como crer na existência de Deus ou crer que Jesus seja o seu Filho. Crer é um acto de confiança que nos permite prosseguir o caminho da nossa vida, ainda que tenhamos obstáculos. É um desafio progressivo, não uma decisão feita de uma vez por todas”.
Ainda acerca da fé D. Filomeno afirma que “ao nível literário, esta é uma perfeita metáfora sobre a fé: diante de uma vida caótica, diante do mar em tempestade que é a existência, é sempre possível enxergar, ver uma presença, ainda que ambígua, que pede para subir na nossa barca, no nosso único refúgio, construído de propósito para nos defendermos das intempéries; que agora começa a desintegrar-se pela hostilidade da força do impacto da natureza“.
E assim mesmo quando as noites são os dias e os dias são as noites, não tenhamos medo porque Jesus está connosco, referiu D. Filomeno referindo aquele episódio de testemunho eloquente do Papa Francisco nos dias mais silenciosos deste séculos, no vazio da Praça de S. Pedro durante a pandemia da covid-19.
O bispo referiu ainda que a presença de Jesus e de Pedro na barca confere a fé e confiança que devemos ter mesmo nas tribulações, perseguições por parte dos seus adversários e os defeitos de alguns dos membros da Igreja. O “milagre” que “vem em auxílio dos discípulos, do povo em perigo, da sua Igreja“.
Por fim trouxe o verbo “duvidar” reforçando que a “existência cristã é uma mistura entre fé e dúvida. Dúvida não somente em relação a Jesus, mas também em relação aos próprios discípulos, à sua missão, à novidade da sua existência diante de um evento profundamente perturbador que os impinge a mudar de vida“. E assim evocou Nossa Senhora que experimentou tantos medos, desafiando a confiar-lhe dúvidas, preocupações, problemas, sofrimentos, dificuldades, doenças incuráveis. Os próprios pastorinhos nesta aparição pediram exatamente a Nossa Senhora que curassem alguns doentes que foram curados durante aquele ano como lhes afirmou a Virgem de Fátima.
D. Filomeno Dias conclui com a oração de súplica a Nossa Senhora:
“Peçamos a Virgem Santa Maria que nos ajude a construir uma Igreja de muita comunhão, de muita esperança, uma Igreja em missão, peregrina e indo a todos os lugares. Peçamos-lhe que a acolhamos como nossa mãe, como nossa mãe de consolação e de paz. Acolhamos Maria em nossa casa, na casa que cada um de nós, isto é, nas casas que são as nossas famílias, as nossas comunidades, a nossa cidade. Amém!”.
Recordamos que nesta aparição Nossa Senhora pediu aos Pastorinhos que continuassem a rezar o Terço todos os dias e que no último mês faria o milagre para que todos acreditassem uma vez que neste mês os pastorinhos foram impedidos de ir à Cova da Iria pelas autoridades locais e impedidos de transmitir que na aparição “havia de vir São José com o Menino Jesus para dar a paz ao mundo e havia de vir Nosso Senhor benzer o povo, vinha Nossa Senhora do Rosário com um Anjo de cada lado e Nossa Senhora com um arco de flores à roda“.
Nesta aparição, Nossa Senhora, recomenda aos pastorinhos guardarem o dinheiro ofertado para ajudar a construir uma capela reforçando com um ar mais triste o pedido para que rezassem: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios por os pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas“.
.: Assista à homilia na íntegra:
No final da Missa Internacional, decorreu o momento de Adoração ao Santíssimo Sacramento, a bênção dos doentes, bem como a palavra ao doente, proferida por Eugénia Quaresma, da Obra Católica Portuguesa das Migrações, na qual destacamos as seguintes passagens:
“Aqui estamos para Contigo aceitar com profunda ternura esta circunstância de fragilidade, porque a Ternura salva e nós queremos salvar-nos.
Que cada etapa do processo que vai do diagnóstico ao tratamento, seja longo e penoso ou apenas temporário, não nos impeça de escolher e sorrir para a vida; ao exemplo da Beata Clara Badano, queremos aprender que a doença e a dor não determinam a nossa alegria.
É urgente ser consolo e esperança; é urgente cuidar, investigar, investir; é urgente promover a maior normalidade possível face às circunstâncias e ao diagnóstico tão particular de cada um(a).
Há pressa no ar em reconhecer a nossa interdependência, enquanto cidadãos, e povos.
Há pressa no ar em buscar e promover soluções criativas para devolver a dignidade, aproximar famílias, combater a solidão,..
Aqui no altar do mundo damos graças por tantos missionários e missionárias que partem apressadamente para cooperar no desenvolvimento de estruturas e profissionais de saúde além-fronteiras.
Aqui no altar do mundo coloco os doentes que estão entre nós ao abrigo dos acordos de saúde, que possam em Ti encontrar conforto e nas nossas pessoas e estruturas, o cuidado de que necessitam“.
No final deste dia 13 de agosto, à noite, no final da Procissão das Velas faz-se ainda a evocação da queda do Muro de Berlim, junto ao monumento.
Peregrinação Internacional Aniversária – 12 agosto 2023
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