Por vezes, nós, jovens crentes, damos como que por assegurada a fé que fomos adquirindo através dos nossos pais, catequistas ou amigos. Quase que nos esquecemos que a fé, para se manter viva, tem de ser alimentada por uma constante busca, uma constante sede de descoberta da verdade, deste Deus que se faz presente, mas também escondido.
Na nossa fragilidade, por mais que nos esforcemos, será sempre difícil dizer: Deus está aqui ou ali, é isto ou aquilo. Por isso, se queremos descobri-Lo, não temos outro remédio se não avançar numa eterna procura, não descurando as pistas que nos vão sendo deixadas no caminho. Neste caminho que deve ser orientado pela eterna interrogação: “Quem é este Deus? Onde é que Ele se esconde?”. Estas são as perguntas que devem guiar os crentes, mas que se encontram também enraizadas no coração daqueles que não creem. Aquilo que poderá marcar a diferença na resposta, é a importância que cada um dá a esta dúvida.
O escritor e sacerdote checo, Tomás Halík, afirma que “o número daqueles a quem chamo «residentes» (dwellers), ou seja, aqueles que se identificam profundamente com a forma tradicional de religião, e também aqueles que declaram um ateísmo dogmático, está em diminuição, enquanto aumenta o número dos que estão «à procura» (seekers). Além disso, está obviamente em aumento também o número dos «apáticos», os indiferentes, pessoas a quem não interessam, em absoluto, as questões religiosas, ou a resposta tradicional. A principal linha de separação, já não é entre os que se consideram crentes e os que se consideram não-crentes. Há quem esteja «à procura», sendo crente (aqueles para quem a fé não é uma «bagagem hereditária», mas um «caminho»), e há quem seja não-crente, que rejeita os conceitos religiosos que lhe são propostos pelos que o rodeiam, mas, ao mesmo tempo, sente o desejo de algo que satisfaça a sua sede de significado.”
Portanto, creio que podemos e devemos começar a pensar a comunidade de crentes, de uma forma totalmente diferente do que temos feito até hoje. Teremos de deslocar a nossa perspetiva da resposta à pergunta “Deus existe?” para a pergunta em si. Ou seja, aquilo que, a nível religioso, poderá vir a marcar diferença, não é tanto se as pessoas confessam acreditar ou não em Deus, mas a importância que dão à dúvida da Sua existência.
Se a Igreja se quer manter viva, terá de aprofundar esta questão e tentar perceber se aqueles que se dizem “ateus”, se interrogam e buscam uma verdade maior que dê sentido às suas vidas, ou se simplesmente ignoram todas estas questões. Da mesma forma, importa perguntar àqueles que se consideram crentes, se continuam a interrogar-se sobre a forma de Deus se faz presente na sua vida, ou se dão a fé como um dado adquirido de uma vez para sempre.
Mudar o foco da resposta para a pergunta “Deus existe”, é retirar a linha de separação entre crentes e ateus, para separar os que estão «à procura» e os «indiferentes». Esta mudança pode ter o condão de transformar a nossa fé, vivida como o cumprimento de rituais e feita de um conjunto de verdades imutáveis, para uma presença de Deus que se faz sempre novidade, a cada momento das nossas vidas, acompanhando os sinais dos tempos. Esta mudança de perspetiva poderá também fazer com que olhemos para aqueles que não acreditam, como pessoas que continuam genuinamente à procura de um sentido profundo para as suas vidas. Só acreditando profundamente nisto poderemos, enquanto Igreja, criar uma nova linguagem. Uma linguagem que ajude a encontrar no Amor e na beleza do dar-se aos outros, um sentido para vida. Algo que nos conduz Àquele que nos ama infinitamente e que se oferece continuamente no altar pela humanidade: Jesus Cristo.
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