Abuso sexual infantil: como identificar uma possível vítima?

Como identificar uma vítima de abuso sexual ou violência de qualquer natureza?


Os casos de denúncias de abuso sexual, infelizmente, aparecem em relatos de adultos que, muitas vezes, foram silenciados e nunca puderam expressar esse sofrimento. Dados do Ministério da Saúde revelam que o abuso sexual infantil ocupa o segundo lugar das violências sofridas por crianças com 0 a 9 anos, o que deve ser indicado como um fator de preocupação e esclarecimento, uma vez que, suas consequências para a vida adulta ou para a própria vida infantil são expressivas do ponto de vista físico e psíquico. A violência infantil de cunho sexual perde apenas para a violência relacionada ao abandono e a negligência.

Para entendermos um pouco mais: a chamada violência sexual é aquilo que se entende por um jogo sexual, em uma relação heterossexual ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, procurando estimular sexualmente esse menor, ou usar dele para obter estimulação sexual sobre uma pessoa ou outra. O abusador, muitas vezes, pode estar no ambiente familiar, de relacionamentos da família ou realizado por pessoas de fora da família, e por vezes desconhecido que, usam dessa vítima fazendo ofertas (como objetos de interesse, jogos, brinquedos, comida) e, posteriormente, ameaças.

Etapas importantes no ciclo vital, a infância e adolescência são épocas onde a pessoa desenvolve e amplia suas capacidades e habilidades cognitivas, afetivas e físicas, bem como as habilidades sociais, que são diretamente afetados quando são vítimas da violência sexual infantil.

Como identificar possíveis vítimas?
Uma dúvida que sempre surge entre as família é: como identificar uma vítima de abuso sexual ou violência de qualquer natureza? Não podemos nos esquecer de que, em muitas situações os abusos são seguidos por ameaças, ou seja, a vítima se sentirá desprotegida pelo seu responsável, e se cala frente a essa coação. Amplia, nessa vítima, o sentimento de culpa pelo que está sofrendo e a faz sentir desacreditada que aquilo possa mudar.

Algo bem importante, então, é observar o comportamento da criança ou adolescente, ou seja, como ela manifesta seus comportamentos diários e se há alguma mudança repentina daquilo que ele fazia ou se mostrava nos ambientes e nos relacionamentos com a família, amigos, escola e nos ambientes que frequenta.

É comum que apareçam sinais de sentimento de culpa, agressividade, de depressão, baixa autoestima, timidez, agressividade, medo, isolamento social, dificuldade para confiar nos outros, alteração do sono, dores, sexualidade exacerbada, dentre outros (Fuks, 1998). Estudos revelam uma lista de sintomas que podem surgir nas vitimas, reforçando que nem todos os sintomas aparecem juntos e podem aparecer em intensidade diferente. (adaptado de Caminha e Flores, 1994). São eles:

Alterações comportamentais:
Agressividade, fuga de casa, isolamento, mentiras, furtos, uso de drogas, prostituição, comportamento hipersexualizado, masturbação, diminuição do interesse escolar, lazer ou brinquedos, pesadelos, rejeição a alguma pessoa da família ou daquele que possa ser o abusador (quando é frequente à família).

Alterações fisiológicas:
Insônia, comportamentos regredidos quanto a enurese e encoprese (urinar ou evacuar na roupa ou dormindo), dores abdominais, batimentos cardíacos acelerados, ganho ou perda de peso, mãos suadas, tremores, febres.

Alterações emocionais:
Tristeza, choro frequente, tentativas de suicídio, embotamento afetivo, medo, raiva, dentre outros.

Alterações cognitivas:
Dificuldade de concentração, dificuldade de memória, falta de interesse escolar e muitas vezes a queda no rendimento das atividades escolares, baixas notas, faltas.

É importante conhecer e reconhecer estas situações, lembrando de que não é apenas um ou dois sinais que podem revelar este abuso, mas um conjunto de indicadores. Ao conhecer, podemos entender melhor para não existir uma preocupação desnecessária ou até que pessoas sejam culpadas desnecessariamente. Muitos comportamentos, por exemplo, podem ser típicos de um jovem em crescimento ou de uma criança que esteja passando por dificuldades de relacionamento. Nesse momento, é importante discernimento, observação e escuta atenta; bem como buscar ajuda com profissionais especializados, se necessário.

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica e Organizacional, colaboradora da Comunidade Canção Nova.
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