Este artigo traz uma compreensão sobre a conquista da masculinidade
Talvez, ao ler o título deste post, você tenha ficado um pouco intrigado: “Como assim? A masculinidade é uma conquista?” Isso deve ser coisa da ideologia de gênero! Não… Isso não dá para aceitar no site da Canção Nova!
Calma! Não criemos pânico! Não é ideologia de género, não! Eu não disse que a masculinidade é uma construção social. Se tivesse dito isso, eu seria, na certa, um ideólogo de género. Mas não é isso que eu disse, muito menos nisso que acredito.
Como surge a masculinidade?
Acredito que a masculinidade é uma conquista, ou seja, está lá dentro do menino quando este nasce, mas ela precisa ser conquistada, precisa ser alcançada, precisa de alguém (um pai ou figura masculina bem estruturada) que “inicie” este menino. Até na Bíblia encontramos essa verdade da conquista da masculinidade. Quando o Rei Davi estava em seus últimos dias, pensando em quem o sucederia, olhou para seu filho Salomão e não teve medo nenhum de o “iniciar” (levá-lo à conquista da masculinidade).
Veja: “Aproximando-se o fim de Davi, deu ele ao seu filho Salomão as suas (últimas) instruções: Eu me vou, disse ele, pelo caminho que segue toda a terra. Sê corajoso: porta-te como homem.” (I Reis 2,1-2)
Conquistas intrauterinas
Quando um menino nasce, vemos em seu corpo o ser masculino com toda potencialidade de vir a ser um grande homem, mas, antes mesmo de seu nascimento, sua masculinidade já passou por grandes conquistas intrauterinas. Antes mesmo de ser uma pessoa, o ser masculino e feminino será definido pelo gameta sexual que fecundará o óvulo. Se o espermatozoide que fecundar o óvulo for Y, tera-se-á um embrião masculino; se o espermatozoide for X, terá-se-a um embrião feminino. Interessante que “Y é mais rápido, e X mais resistente. Os espermatozoides têm características diferentes de acordo com o cromossomo que carregam. Segundo Leonel ( 1996), “os espermatozoides que contêm o cromossomo Y são mais leves, mais rápidos e menos resistentes. Já os espermatozoides que carregam o cromossomo X são mais pesados, mais lentos e mais resistentes.” (p. 575)
O ser mais ativo está ligado ao cromossomo Y, e o ser mais passivo ao cromossomo X. Não se trata de uma visão maniqueísta (um é bom e o outro ruim), em que um é melhor do que o outro, mas se trata de características próprias e particulares. Enquanto um é mais ativo, o outro se beneficia de ser mais resistente. Interessante que parece validar isso no que diz do masculino e feminino: o masculino tende a ser mais ativo, enquanto o feminino mais resistente.
Ainda numa visão biológica, segundo Sadava, “os esteroides sexuais começam a exercer efeitos no embrião humano na sétima semana de desenvolvimento. Até esse período, o embrião tem o potencial para desenvolver-se em ambos os sexos”. Até a sétima semana, não há distinção: o ser masculino será, segundo o próprio Sadava, uma resultante da ativação do andrógeno:
“Em humanos, a presença de um cromossomo Y normalmente estimula as gônadas indiferenciadas do embrião a começarem a produzir andrógeno na sétima semana. Em resposta aos andrógenos, desenvolve-se um sistema reprodutor masculino. Se andrógenos não são produzidos nesse período, estruturas reprodutivas de fêmea desenvolvem-se. Portanto, os andrógenos são necessários para disparar o desenvolvimento do macho em humanos e ocultar a condição feminina.” (p. 1025)
Há uma interdição do masculino já na fase intrauterina. Sem a interdição do andrógeno, a condição será para o desenvolvimento das estruturas reprodutivas femininas. Dentro da barriga, a masculinidade começa sua conquista enquanto tal.
Depois, teremos, mais uma vez, por volta dos 3 a 6 anos do menino, a vivência do complexo de édipo, quando, de forma muito resumida, ele, em um primeiro instante, volta-se totalmente para mãe, pois esta o alimenta, dá o corpo como forma de muito afeto. Em um segundo instante, esse menino olha para a mãe e vê que, ao lado dela, há um homem (pai) que ela ama. Nesse momento, no menino surge a identificação com o pai, que o chama para a cultura, insere-o no desejo de ser um homem tal como ele é. Fato este que nos faz pensar no quanto a masculinidade, mais uma vez, é apresentada como algo a “se conquistar”, pois, ao identificar-se com o pai, que ocupa a função de agente interditor entre a mãe e o menino, este adquire, assim, a possibilidade de exercer sua virilidade no futuro com outras mulheres. A exemplo do pai, parece-nos que a masculinidade é “transmitida”, “conquistada”.
Ritos do início da masculinidade
Outra forma de percebemos essa conquista da masculinidade são os rituais de iniciação masculinas. Estes são tão antigos, que podem ser encontrados nas cavernas de Lescaux (na França) e em Altamira (Espanha), datadas de 20.000 – 25.000 anos atrás, onde, segundo Ulson (2008), pinturas dos neófitos apontavam para cerimônias das quais meninos eram estimulados a passar por canais estreitos – que simulavam o canal do parto – e chegavam a salas iluminadas com pinturas de caça e expressões guerreiras de sua tribo. Moore e Gillette (1993) destacam que os antropólogos são quase unânimes em dizer que santuários milenares encontrados em cavernas pela arqueologia são, em sua maioria, lugares construídos “por homens e para homens”, para celebrar os “rituais de iniciação de meninos no mundo misterioso da responsabilidade e da espiritualidade masculina” (MOORE e GILLETTE, 1993, p.4)
Há uma jornada de aventura e desafios que gritam em cada menino. É preciso estar ali como um homem ao lado dele, incentivando-o a ser quem ele é, um homem em potencial. Quanta diferença faz quando um pai pega seu filho e o leva a se aventurar em uma simples pescaria, ou até mesmo a escalar uma montanha! Ali, no simples estar com o filho, a masculinidade vai sendo conquistada, o desejo por se “arriscar” vai crescendo e, no futuro, esse menino, tornado homem, será capaz de fazer o que todo homem é chamado a fazer: dar a vida por sua esposa, por seus filhos, pelo seu povo. Enfim, “ser corajoso e portar-se como homem”.
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