Terceiro domingo da Quaresma – Ano B

O culto verdadeiro não ficará ligado a um lugar determinado

Nas tradições, quer religiosas, quer poéticas de todos os povos, especialmente os orientais, a aguá é tomada como símbolo da vida.

Mas este elemento natural, dado ao homem e não fruto do seu trabalho, não simboliza apenas o milagre sempre renovado da vida material. Na verdade, no Novo Testamento, a água exprime, simbolicamente, a salvação, a vida sobrenatural, participação da própria vida divina, a que Deus “decidiu elevar os homens, que não abandonou, uma vez caídos em Adão” ( Lumen Gentium nº2 ).

Esta água brotará de Cristo Redentor, a Rocha viva ( 1 Cor 10,4 ), na “hora” da Sua morte-glorificação. Ele é o meio de que Deus Se serve, para pôr a vida do homem em comunhão com a Sua própria vida. Ele é a fonte da “água viva” ( Jo 7,37-38 ).

A Igreja descobrir-nos-á as maravilhas assombrosas desta vida, que começa no momento em que o homem se une a Cristo pela Fé e se enxerta Nele pelo Baptismo. Vida misteriosa, pela sua imaterialidade e pela sua dimensão transcendente mas vida real, a única que pode saciar, plenamente, toda a sede de verdade, de amor, de justiça e de liberdade, que atormenta o coração do homem.

1ª Leitura do Êxodo ( 20, 1-17 ) – Ao povo que havia sido salvo, quer da escravidão do Egipto, quer das dificuldades do Deserto, Deus dá uma lei. Não se trata de uma intervenção despótica ou paternalista de Deus, mas sim de um dom, pelo qual a salvação alcançada poderá ter continuidade. Os mandamentos são uma exigência da realidade nova que a Aliança com Deus operou. Eles ajudam, na verdade, o homem a viver a sua vida de relações pessoais com Deus e de comunhão com os seus irmãos. Rejeitando os mandamentos que o Deus Libertador lhe deu, o homem, em vez de se tornar livre, cai em “novas formas de escravidão social e psicológica” ( Gaudium et Spes nº 4 ).

Salmo 18(19) – Senhor, Vós tendes palavras de vida eterna.

2ª Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios ( 1,22-25 ) – Muitas vezes, nos parecemos quer com os judeus, quer com os pagãos, de que fala São Paulo. Desejosos de atravessar a vida a coberto de todos os riscos, queremos um Deus, sempre à nossa disposição para fazer milagres, para resolver os nossos problemas. Sonhamos uma Igreja forte, eficaz, com soluções sábias e concretas para todos os problemas modernos. Contudo, não é esse o caminho do Reino. Em vez de Se impor pelo poder, pela sabedoria humana, foi pelo escândalo e pelo absurdo da Cruz que Cristo nos salvou. Na Igreja, não é a eficiência dos meios ou o volume dos resultados que conta. Aceitar seguir a Jesus no seu caminho mortal até à Ressurreição é a única coisa importante.

Evangelho segundo São João ( 2, 13-25 ) – O templo de Jerusalém era para os judeus o lugar do seu encontro com o Deus Verdadeiro. Porém, esse templo material, em que ofereciam o culto, havia de ser suplantado por uma nova realidade. O culto verdadeiro não ficará ligado a um lugar determinado. Não será um lugar, mas uma Pessoa viva que reunirá à Sua volta todos os crentes, para dar ao Pai o culto “em Espírito e Verdade” (Jo 4,23), que merece. O Corpo de Jesus, destruído pela morte e reedificado com a Ressurreição é o novo lugar de encontro com Deus, é a salvação. Nele se realiza a nova Aliança, nele se manifesta a “glória de Deus”.