Neste tempo propício da Quaresma, somos convidados a uma atitude de conversão do coração. Neste contexto, é-nos particularmente cara a mensagem oferecida à humanidade em Fátima. Apresentando o olhar de esperança e de misericórdia com que Deus nos olha, somos encorajados a não nos deixarmos vencer pela indiferença que banaliza o mal, mas a deixar que o nosso coração se identifique com Cristo e a assumir a sua atitude de compromisso diante da vida.” É assim que D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, apresenta esta proposta de retiro popular para esta Quaresma de 2017.
TEMA 2
Refúgio e caminho até Deus – Aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria, em 1917
Breve contextualização
A Cova da Iria foi o lugar escolhido para Nossa Senhora aparecer em cada dia 13 de maio a outubro de 1917. Ao meio dia, a hora do sol mais forte, três crianças de Aljustrel vêem uma “Senhora mais brilhante do que o sol”; não faltam ao encontro marcado, exceto no mês de agosto e apenas porque outros as desviam do caminho.
Pelas mãos da Maria, os pastorinhos experimentam a presença do próprio Deus, que era aquela Luz, e são convidados a uma atitude de entrega sem limites pela salvação da humanidade. A 13 de maio respondem um “Sim” generoso à pergunta: «Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?» (MIL, p. 173-174). No percurso iniciado, a Senhora garante-lhes que o seu Imaculado Coração é refúgio e caminho para Deus. Mais ainda, como vêem no segredo mostrado em julho, esse Coração é resposta diante de todos os “infernos” e triunfará sobre os dramas da História.
O cenário pobre e árido da Cova da Iria torna-se, desde então, palco de grandes acontecimentos e também esconderijo de muitos corações atribulados, ao jeito da casa materna onde há sempre lugar para festejar as alegrias e curar as feridas.
Vamos ouvir das Memórias da Irmã Lúcia a descrição de como foi crescendo o conhecimento e o amor a Deus e ao Imaculado Coração de Maria ao longo das aparições.
Leitura das Memórias da Irmã Lúcia (MIL, p. 126-127)
Já disse, no segundo escrito, que Nossa Senhora, a 13 de Junho de 1917, me disse que nunca me deixaria e que Seu Imaculado Coração seria o meu refúgio e o caminho que me conduziria a Deus. Que foi ao dizer estas palavras que abriu as mãos, fazendo-nos penetrar no peito o reflexo que delas expedia. Parece-me que, em este dia, este reflexo teve por fim principal infundir em nós um conhecimento e amor especial para com o Coração Imaculado de Maria; assim como das outras duas vezes o teve, me parece, a respeito de Deus e do mistério da Santíssima Trindade. Desde esse dia, sentimos no coração um amor mais ardente pelo Coração Imaculado de Maria. A Jacinta dizia-me, de vez em quando:
– Aquela Senhora disse que o Seu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus. Não gostas tanto? Eu gosto tanto do Seu Coração! É tão bom!
Depois que, em Julho, no segredo, como já deixo exposto, nos disse que Deus queria estabelecer no Mundo a devoção a Seu Imaculado Coração; que, para impedir a futura guerra, viria pedir a consagração da Rússia a Seu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados, falando disto entre nós, a Jacinta dizia:
– Tenho tanta pena de não poder comungar em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!
Evangelho segundo São João (Jo 4, 5-10; 25-26; 39-41a)
Jesus chegou, pois, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacob tinha dado ao seu filho José. Ficava ali o poço de Jacob. Então Jesus, cansado da caminhada, sentou-se, sem mais, na borda do poço. Era por volta do meio-dia.
Entretanto, chegou certa mulher samaritana para tirar água. Disse-lhe Jesus: «Dá-me de beber.» Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos. Disse-lhe então a samaritana: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?» É que os judeus não se dão bem com os samaritanos. Respondeu-lhe Jesus: «Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz: ‘dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva!».
Disse-lhe a mulher: «Eu sei que o Messias, que é chamado Cristo, está para vir. Quando vier, há-de fazer-nos saber todas as coisas.» Jesus respondeu-lhe: «Sou Eu, que estou a falar contigo».
Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram nele devido às palavras da mulher, que testemunhava: «Ele disse-me tudo o que eu fiz.» Por isso, quando os samaritanos foram ter com Jesus, começaram a pedir-lhe que ficasse com eles. E ficou lá dois dias.
Tópicos de meditação
Dispor-se para o encontro
A samaritana foi ao poço para buscar água. No diálogo com Jesus, ali sentado, é a samaritana que chega a pedir «dá-me dessa água». O Senhor quer encontrar-se também connosco, e por isso suscita em nós esse desejo de algo mais, algo que dê sentido à vida toda.
Os pastorinhos tornaram-se sedentos de Deus e aprenderam a procurá-lo através do Coração Imaculado de Maria. A Jacinta exprime bem esse desejo ao dizer: «Tenho tanta pena de não poder comungar em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!».
Terei eu esse desejo ardente de me encontrar com o Senhor? Estou atento à sua presença no meu dia-a-dia, ou vivo superficialmente, fechado no meu mundo?
Conhecer o Senhor pelas mãos de Maria
A Samaritana testemunhava que Jesus era o Messias afirmando: «Ele disse-me tudo o que eu fiz». Na verdade, todo o encontro foi um conhecimento mútuo pois também Jesus se deu a conhecer. Disse-lhe Ele: «Sou Eu, que estou a falar contigo.».
Segundo nos conta a Irmã Lúcia, ela e os dois primos puderam conhecer e experimentar a presença da Santíssima Trindade na luz que saía das mãos de Nossa Senhora. É este Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo, e que se entrega por nós na cruz e em cada Eucaristia, que Nossa Senhora nos dá a conhecer. Por isso a Igreja a vê como Mãe e como modelo na fé, na esperança e na caridade. Os pastorinhos compreenderam esse mistério pelo qual o Coração sem mancha de Maria é caminho de santidade.
Procuro crescer no meu conhecimento de Deus através da oração e da vida dos sacramentos, ou imagino um deus segundo as minhas conveniências? Confio-me a Nossa Senhora e sigo-a no mesmo caminho de santidade?
Deixar que o encontro conduza ao testemunho
A alegria da samaritana transborda de tal maneira no seu coração que tem de ir anunciar aos outros. Aquela mulher já não tem medo de falar e de se expor diante daqueles que também deveriam conhecer bem o seu passado. Mais ainda, essa história de pecado, agora redimida, torna-se sinal para os outros. A alegria do encontro com Jesus supera os seus limites e a sua pequenez e ela descobre que é capaz de uma missão tão grande como a de anunciar a Luz de Cristo.
Algo semelhante acontece com a Lúcia, o Francisco e a Jacinta: crianças simples de uma aldeia pequena que se tornam «candeias que Deus acendeu para iluminar o mundo nas suas horas sombrias e inquietas» (S. João Paulo II).
Estou consciente de que nenhum defeito ou limite que tenho pode ser desculpa para não falar de Deus através das minhas atitudes, gestos e palavras? Sou portador da alegria e da paz próprias de quem se encontrou com a pessoa de Jesus?
in Retiro Popular Quaresma 2017: “Eu nunca te deixarei”
Diocese Leiria-Fátima
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