Neste tempo propício da Quaresma, somos convidados a uma atitude de conversão do coração. Neste contexto, é-nos particularmente cara a mensagem oferecida à humanidade em Fátima. Apresentando o olhar de esperança e de misericórdia com que Deus nos olha, somos encorajados a não nos deixarmos vencer pela indiferença que banaliza o mal, mas a deixar que o nosso coração se identifique com Cristo e a assumir a sua atitude de compromisso diante da vida.” É assim que D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, apresenta esta proposta de retiro popular para esta Quaresma de 2017.
TEMA 5
Contemplação – Vida e espiritualidade do Beato Francisco Marto
Breve contextualização
A breve vida de Francisco Marto tem um centro bem definido, ao qual ele dedica o seu tempo de adoração e contemplação. Sempre que podia, refugiava-se num lugar isolado para rezar sozinho. Frequentemente, passava longas horas no silêncio da igreja paroquial, junto ao sacrário, para fazer companhia a Jesus escondido. Francisco desenvolve de tal forma a sua intimidade com Deus, que chega a entrever um Deus triste face aos sofrimentos do mundo, sofre com ele e deseja consolá-lo.
É a este olhar preenchido pelo essencial que Jesus nos convida. É apenas na medida em que o coração repouse em Deus, constantemente, que chegará a saborear a felicidade da vida em Deus. Porque onde está o coração, aí está o tesouro.
Francisco é o menino que se deixa habitar pela presença inefável de Deus e é a partir dessa presença que ele acolhe os outros na sua oração. A vida de fé de Francisco é uma vida de contemplação.
Leitura das Memórias da Irmã Lúcia (MIL, p. 141-142)
Poucos dias depois da primeira aparição de Nossa Senhora, ao chegar à pastagem, subiu-se a um elevado penedo e disse-nos:
– Vocês não venham para aqui; deixem-me estar sozinho.
– Está bem. E pus-me, com a Jacinta, atrás das borboletas que apanhávamos, para logo fazer o sacrifício de deixar fugir, e nem mais do Francisco nos lembrou. Chegada a hora da merenda, demos pela sua falta, e lá fui a chamá-lo:
– Francisco, não queres vir a merendar?
– Não. Comam vocês.
– E a rezar o terço?
– A rezar, depois vou. Torna-me a chamar.
Quando voltei a chamá-lo, disse-me:
– Venham vocês a rezar aqui pró pé de mim.
Subimos para o cimo do penedo, onde mal cabíamos os três de joelhos, e perguntei-lhe:
– Mas que estás aqui a fazer tanto tempo?
– Estou a pensar em Deus que está tão triste, por causa de tantos Pecados! Se eu fosse capaz de Lhe dar alegria!
Leitura do Evangelho de São Lucas (12, 22-32)
Jesus disse aos discípulos: «É por isso que vos digo: Não vos preocupeis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir; pois a vida é mais que o alimento, e o corpo mais que o vestuário.
Reparai nos corvos: não semeiam nem colhem, não têm despensa nem celeiro, e Deus alimenta-os. Quanto mais não valeis vós do que as aves! E quem de vós, pelo facto de se inquietar, pode acrescentar um côvado à extensão da sua vida? Se nem as mínimas coisas podeis fazer, porque vos preocupais com as restantes?
Reparai nos lírios, como crescem! Não trabalham nem fiam; pois eu digo-vos: Nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva, que hoje está no campo e amanhã é lançada no fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé!
Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, nem andeis ansiosos, pois as pessoas do mundo é que andam à procura de todas estas coisas; mas o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Procurai, antes, o seu Reino, e o resto vos será dado por acréscimo. Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.»
TÓPICOS PARA A MEDITAÇÃO
Focar o olhar em Deus
Sou convidado por Jesus a fixar o olhar no Pai, a colocar nele o coração, a saboreá-lo como o tesouro maior.
A vida de Francisco testemunha que uma vida assim focada dá frutos de felicidade e de bem para os demais.
Deixo-me ocupar demasiado pelas solicitações do dia-a-dia a ponto de perder o foco do que é o essencial? No meu dia, esqueço-me de olhar para Deus, de falar com ele, de parar para o escutar?
Confiar a Deus a vida toda
Deus pede-me que lhe entregue as preocupações do meu dia e que confie. Convida-me a viver com o coração livre e a saborear a sua ternura e o seu amor. É apenas na medida em que acredite que a minha vida é sustentada no amor de Deus que o meu coração se entrega para nele descansar.
Assim foi com Francisco: o menino de Fátima compreendeu que era Deus o sustento da sua vida e, por isso, confia-se plenamente nas suas mãos, particularmente nos momentos de maior provação.
Entrego eu a Deus todas as minhas inquietações? Entrego-lhe as minhas alegrias e dores, tudo o que tenho e sou?
in Retiro Popular Quaresma 2017: “Eu nunca te deixarei”
Diocese Leiria-Fátima
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