Qual é a realidade da juventude e da vocação na sociedade?

Vamos refletir e se aprofundar na realidade da juventude e da vocação


Neste ano de 2018, a Igreja assistirá a mais uma Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, aprofundando a realidade da juventude e da vocação. Na Arquidiocese de Belém, escolhemos o tema do Círio de Nazaré do presente ano, “Uma jovem chamada Maria“, para oferecer a todos, especialmente à juventude, o modelo e a intercessão Daquela que é companheira em nossa aventura de fé, a Virgem Maria. O Documento Preparatório do Sínodo oferece elementos preciosos de reflexão e pistas de ação, para ajudar nossos adolescentes e jovens na descoberta da própria vocação e a necessária resposta aos apelos de Deus.

A provocante pergunta sobre a vocação, precisa ser amplamente apresentada na Igreja e nas famílias, sob pena de boicotar um direito inerente à dignidade cristã das novas gerações, como também, das pessoas mais maduras. Mesmo as pessoas com estado de vida e lugar definidos na Igreja e na Sociedade, terão imenso proveito se forem capazes de rever a própria história a partir da ótica da vocação. Valerá a pena descobrir o fio de ouro com o qual Deus foi tecendo acontecimentos diversos, sucessos e insucessos, defeitos e virtudes; em vista do bem daqueles que descobriram e se empenharam em responder ao amor, e com esse foram criados.

Vocação
Do Documento Preparatório do Sínodo, recolhemos algumas pistas orientadoras para tratarmos do tema “Vocação”. A certa altura, esse texto nota que: vir ao mundo significa encontrar a promessa de uma vida boa e que, ser recebido e protegido, é a experiência originária que inscreve em cada um a confiança de não ser abandonado à falta de sentido, nem à obscuridade da morte, e a esperança de poder manifestar a própria originalidade num percurso rumo à plenitude da vida. A sabedoria da Igreja oriental ajuda-nos a descobrir como essa confiança está radicada na experiência de “três nascimentos”: o nascimento natural, como mulher ou como homem, num mundo capaz de receber e promover a vida; o nascimento do batismo, “quando alguém torna-se filho de Deus pela graça”; e depois um terceiro nascimento, quando se verifica a passagem “da forma de vida corporal para aquela espiritual”, que abre ao exercício maduro da liberdade (Cf. Discursos de Filoxeno de Mabug, bispo sírio do século V, n. 9).

Cabe à família e à Igreja oferecer os meios necessários para que, adolescentes e jovens, se abram para essa vida espiritual, da qual o chamado de Deus, a vocação, é um dos elementos fundamentais, e assim, não passem a vida apenas perguntando o que querem fazer neste mundo, mas entrem num relacionamento dialogal, plantado pelo Espírito Santo no coração das pessoas, e perguntem-se sobre a vontade de Deus em suas vidas.


A fé é a fonte do discernimento vocacional, porque oferece os seus conteúdos fundamentais, as suas articulações específicas, o seu estilo singular e a pedagogia que lhe é própria. Receber esse dom da graça com alegria e disponibilidade, requer que ele se torne fecundo através de escolhas de vida concretas e coerentes. A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir um grande chamado — a vocação ao amor — e assegura que esse amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento encontra-se na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade. Essa fé torna-se luz para iluminar todas as relações sociais, contribuindo para construir a fraternidade universal, entre os homens e as mulheres de todos os tempos. (Cf. Lumen fidei, 53-54).

Acreditar significa colocar-se à escuta do Espírito e em diálogo com a Palavra, que é caminho, verdade e vida (Cf. Jo 14, 6), com toda a própria inteligência e afetividade, aprender a dar-lhe confiança, encarnando-a na realidade cotidiana, nos momentos em que a Cruz se faz próxima, e naqueles em que se experimenta a alegria perante os sinais de ressurreição, precisamente como fez João, o discípulo amado. O espaço desse diálogo é a consciência, o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual ele se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser (Cf. Gaudium et spes, 16), um espaço inviolável onde se manifesta o convite a aceitar uma promessa. Distinguir a voz do Espírito dos outros apelos, e decidir a resposta a dar é uma tarefa que compete a cada um.

Como discernir?
Os outros podem acompanhar e confirmar, mas jamais substituir esta decisão pessoal. No discernimento vocacional, ou seja, no processo em que a pessoa, em diálogo com o Senhor e à escuta da voz do Espírito, aparecem as perguntas: como viver a Boa Notícia do Evangelho e responder ao chamamento que o Senhor dirige a todos aqueles dos quais vai ao encontro, através do casamento, do ministério ordenado, da vida consagrada?

E qual é o campo em que se pode fazer frutificar os talentos pessoais, como a vida profissional, o voluntariado, o serviço aos últimos, o compromisso na política? A Palavra de Deus nos apresenta algumas figuras que se envolveram com Deus e seus apelos. Na Liturgia do Segundo Domingo do Tempo Comum, Samuel teve que aprender a reconhecer a voz de Deus para chegar a dizer “Fala. Senhor, que teu servo escuta!” André, João e Simão Pedro fizeram também sua estrada de discernimento. Foi João Batista, dizendo “Eis o Cordeiro de Deus” que desencadeou o processo que viveram, para se transformarem em discípulos e apóstolos do Senhor. Faz-se necessário aprender a escutar, acolher as pessoas que nos ajudam, dedicar-se à oração, fazer uma verificação corajosa quando se identificam os sinais do chamado de Deus. E é no espaço da comunidade cristã que se processa o discernimento vocacional. Um sonho grande, mas não impossível, nos indica o desejo de que se organize em cada Paróquia o “Serviço de Animação Vocacional”, a fim de que, o assunto vocação entre na pauta cotidiana da vida de Igreja. Deus nos conceda esta graça!