Qual é a hora de dizer sim ao noivado?

Antes do noivado é necessário que haja amadurecimento e autoconhecimento


O momento oportuno para saber dizer sim é quando consigo dizer “sim e não” para mim mesmo, ou seja, quando tenho autoconhecimento. É preciso conhecer-se o bastante, saber escutar-se, gastar tempo ouvindo o que, de fato, você espera da vida, o que deseja do casamento. Quem não se conhece se ilude e acaba iludindo o outro.

O Papa fala que o homem precisa aprender sobre a mulher, mas se esse homem não se conhece, dificilmente se revelará em autenticidade para a mulher. Da mesma forma, podemos falar da mulher, pois ela precisa aprender sobre esse homem, mas deve conhecer-se antes de “aprender”.

Acreditamos que é preciso certa maturidade humana para dar esse passo de, minimamente, conhecer-se para oferecer-se. Não ter medo de ser transparente em tudo para com o namorado e perceber, dentro de você, se esse sentimento é forte o bastante para as intempéries da vida! É preciso ver o que ele sente e se esse sentimento é forte o bastante para dar o passo para o casamento.

Isso não quer dizer que um noivado não possa terminar. Pode sim! Mas é mais fácil gastar as energias de conhecimento no namoro e poupar as energias no noivado para preparar-se para o casamento. Depois de alguns anos de namoro, podemos chegar à conclusão sobre o que, de fato, sentimos e se esse sentimento é para a vida toda.

Conheçam-se profundamente
Quando gastamos tempo para nos escutar, para nos ver e rever, consequentemente vamos abrindo espaço para conhecer o outro e perceber seu ritmo. Vamos percebendo o comprometimento que ele tem conosco e com a nossa relação. Aqui, já vamos captando, “aprendendo” o outro no que ele é e tem a oferecer para essa relação amorosa.

Para noivar é preciso ter nas mãos a segurança do sentimento do outro. Não caia na loucura de noivar na dúvida, não caia na loucura de noivar nas inconstâncias do outro com você! Quando nos conhecemos e conhecemos o outro, podemos dar o passo de noivar, entrar de cheio nessa preparação para o casamento.

Valorize esse tempo de conhecimento
A vida a dois é maravilhosa e muito séria, por isso não deve ser concebida como algo provisório, mas sim em vista da eternidade. Falando disso, dessa cultura do provisório, o Papa Francisco insiste em refletir sobre “a rapidez com que as pessoas passam de uma relação afetiva para outra. Creem que o amor, como acontece nas redes sociais, possa conectar-se ou desconectar-se ao gosto do consumidor, inclusive bloquear rapidamente”. Ele ainda fala do “medo que desperta a perspectiva de um compromisso permanente, na obsessão pelo tempo livre, nas relações que medem custos e benefícios e mantêm-se apenas se forem um meio para remediar a solidão, ter proteção ou receber algum serviço”. São reflexões que precisamos colocar à nossa frente e irmos a fundo em cada uma delas, para que não vivamos um falso amor.

Quando conseguimos viver sem o outro, somos capazes de viver para o outro. Talvez esse seja um bom termômetro para verificarmos o momento certo de noivar. As idealizações ficaram para trás, apresenta-se, agora, uma individualidade que se abre à conjugalidade.

Testemunho
Quando minha esposa, Letícia, e eu sentimos que era o tempo de noivarmos? Quando eu descobri, dentro de mim, que estava preparado para ser o esposo para a Letícia, ser para ela pai dos filhos que viríamos a ter. Era uma certeza muito grande, e assim partilhei com ela. Letícia disse que também sentia que era o tempo de noivarmos, pois também trazia essa certeza com ela. Demoramos em torno de quatro anos para noivar (houve um término de namoro nesse tempo).

Quando eu, Letícia, descobri dentro de mim e dentro do Adriano a segurança para dar esse passo, meu olhar contemplava um futuro a dois como família. Sentia-me segura ao olhar para o Adriano e ver nele condições suficientes para ser esposo e pai. Ao olhar para mim, identificava estrutura suficiente de um ‘sim’ para sempre, sendo esposa e mãe. E como foi bom perceber em nós o ritmo da vida que nos levava a dar esse passo!

“Há um ponto em que o amor do casal alcança a máxima libertação e se torna um espaço de sã autonomia: quando cada um descobre que o outro não é seu, mas tem um proprietário muito mais importante, o seu único Senhor. Ninguém pode pretender possuir a intimidade mais pessoal e secreta da pessoa amada, e só Ele pode ocupar o centro da sua vida. Ao mesmo tempo, o princípio do realismo espiritual faz com que o cônjuge não pretenda que o outro satisfaça completamente as suas exigências. É preciso que o caminho espiritual de cada um – como justamente indicava Dietrich Bonhoeffer – ajude-o a «desiludir-se» do outro, a deixar de esperar dessa pessoa aquilo que é próprio apenas do amor de Deus. Isso exige um despojamento interior.

O espaço exclusivo que cada um dos cônjuges reserva para a sua relação pessoal com Deus não só permite curar as feridas da convivência, mas possibilita também encontrar no amor de Deus o sentido da própria existência. Temos necessidade de invocar, a cada dia, a ação do Espírito, para que essa liberdade interior seja possível. Foi assim, entrando a fundo em nossas motivações mais interiores e submetendo-as a Deus, que conseguimos perceber o tempo certo para darmos o passo em direção ao altar.

Não queiram apressar as coisas, não dá para entrar na Igreja com pressões e incertezas. É preciso estar seguro no passo a ser dado. O casamento é fantástico, mas se não for no tempo certo, pode ser um estrago.

O que não podemos deixar de fora nesse tempo de noivado? Essa é uma conversa para ser aprofundada no livro: ‘Agora e para sempre: como viver o amor verdadeiro’.