O problema ou a solução está no nosso terreno

Neste 15º Domingo do Tempo Comum Jesus vem falar ao nosso coração que podemos acolhê-lo de várias formas: ser duro como um caminho; ter pouca profundidade; ter os obstáculos dos espinhos; ou então ser um terreno fértil. Qual destes terrenos é o teu coração?

Liturgia da Palavra

1ª Leitura| Isaías 55, 10-11

Salmo 64 (65), 10-14 | A semente caiu em boa terra e deu muito fruto.

2ª Leitura | Romanos 8, 18-23

Evangelho | Mateus 13, 1-23

foto | freepik

O profeta Isaías fala, em nome de Deus, ao seu povo, na segunda metade do século VI a.C. Encontra-se deportado e escravo na Babilónia. A tentação da desilusão quanto ao Deus de Israel é grande, pois parece que perdeu o seu poder e a sua palavra não tem qualquer efeito. Neste contexto dramático, faz-se ouvir uma voz profética de esperança: a palavra de Deus cumpre sempre o que promete. É como a chuva que cai na terra e sempre a irriga e torna fértil. Mas é preciso saber esperar o tempo justo da colheita, do cumprimento das promessas de Deus. Não é verdade que, por vezes, pretendemos pôr prazos a Deus, como que exigindo que Se adapte ao nosso calendário e agenda?

Um atleta não pode parar na consideração do seu suor e cansaço, quando corre para alcançar a meta. Tem de animar-se com a vitória que deseja conseguir, relativizando a sua canseira e dor. São Paulo, escrevendo aos cristãos de Roma, recorda a todos nós um magnífico horizonte de esperança: “Eu penso que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há de manifestar em nós”. E dá o elucidativo exemplo do que passaram as nossas mães ao dar-nos à luz: os seus sofrimentos tornaram-se insignificantes perante a maravilhosa alegria do nascimento do seu filho. É esta a atitude, positivamente esperançosa, que cultivamos quando nos bate à porta uma provação, um problema, um insucesso?

É surpreendente ver Jesus que, sendo Deus, sabedoria infinita, comunica a sua boa nova por meio de parábolas, de imagens e histórias simples. Faz parte do mistério da encarnação do Verbo de Deus, que Se faz um de nós, traduzindo os mistérios divinos na linguagem simples de quem ama. Os rabis, os mestres contemporâneos de Jesus, afirmavam que uma parábola é como o pavio de uma candeia: algo simples e barato que, por mais fraco que seja, dá a luz suficiente que pode levar a descobrir um tesouro. As parábolas de Jesus, na sua simplicidade acessível, levam-nos ao encontro do tesouro que é a vontade de Deus a nosso respeito, a nossa salvação.

Nesta parábola de Jesus, sublinho que uma boa colheita não depende propriamente da habilidade do semeador ou da qualidade da semente. Cristo e a palavra de Deus são de inexcedível valor. O problema ou a solução está no nosso terreno: ser duro como um caminho; ter pouca profundidade; ter os obstáculos dos espinhos; ou então ser um terreno fértil. Humildemente devemos reconhecer que temos uma percentagem de todos estes tipos de terreno. Com realismo e com a graça de Deus, cumpre-nos ir melhorando sempre a qualidade do terreno do nosso coração.