Gostaria de partilhar com você a musica que tocou meu coração, é da Irmã Clenda, que a Adriana gravou em um de seus CDs: Porque tenho medo se nada é impossível para ti / porque tenho medo se nada é impossível para ti? Nada é impossível para ti / nada é impossível para ti /Venceste a morte, pois nada é impossível para ti/Venceste a morte, pois nada é impossível para ti? Nada é impossível para ti / Nada é impossível para ti…
Essa música animou o meu ouvido hoje de manhã ao ouvir o Evangelho da tempestade acalmada por Jesus: “Soprava um vento forte e o mar estava agitado…” (João 6,18). Apesar de serem pescadores e de terem anos de experiência no mar, principalmente pescando à noite, eles tiveram temor. Diz o Evangelho que eles remaram uns cinco quilômetros, ou seja, não estavam muito longe da praia. Mas do que será que os apóstolos de Jesus tinham medo? Por que era noite ou por que o vento agitava o barco e eles temiam morrer? Acredito que a maior tempestade estava no interior deles, e era essa agitação que Cristo queria acalmar. O Senhor quer acalmar os corações, porque o medo é uma ameaça que começa a destruir por dentro, mesmo que haja situações muito concretas no exterior, o medo nos destrói de dentro para fora.
Quem vive com medo não caminha
Quantas situações nos aprisionam as mãos e os pés, colocando em nossas mãos algemas e nos pés correntes! Mas quando isso acontece, é porque o nosso coração já está cativo, a aparente calmaria externa pode revelar um turbilhão de tempestade dentro de nós e enquanto não fizermos como Pedro: estendermos nossa mão para dizer: “Senhor, socorra-me, estou perecendo”, pois o temor tem a capacidade de nos paralisar, e esse mal é a prisão do coração. Quem vive com medo não caminha, anda se esbarrando nas esquinas dos seus sentimentos e tenta completar-se no vazio dos seus sentimentos e dos outros. Quando temos medo de perder, somos aprisionados pelo sentimento de posse, pois onde há temor não há amor verdadeiro.
Quando temos muito medo de morrer, é porque ainda não sabemos viver bem a vida; ou quando vivemos com medo de doenças, não experimentamos ainda o sabor de uma vida saudável. Da mesma forma, quando sentimos medo de nós mesmos, do que seremos capazes de fazer, é porque ainda não nos possuímos, porque não nos conhecemos o suficiente para respeitar os nossos limites e fraquezas. Quanto mais eu me conhecer, tanto menos temor eu terei de mim e daquilo que eu vou encontrar nos lugares escuros do meu interior. Quando temos medo dos outros, das pessoas, talvez ainda não experimentemos o verdadeiro amor por alguém e a capacidade de liberdade que o amor é capaz de nos dar. “O amor lança fora todo temor”.
Mas Jesus diz: “Sou eu. Não tenhais medo”. O Senhor revela para nós que a coragem, a força do coração, é capaz de mudar o exterior, mas principalmente nos libertar dos labirintos do temor, da escravidão de nós mesmos, dos outros e das coisas, pois Deus nos criou para sermos livres e vivermos em busca do desconhecido; a força que existe dentro de nós, que se chama Deus, mas que é muito maior do que nós. “Eu te buscava fora e estavas dentro de mim”, dizia Santo Agostinho sobre essa força, essa graça de felicidade e vida, que está dentro de cada ser humano, a coragem, a força de Deus, que vence todo medo.
Agora, é preciso remar para dentro de mim e de Deus, onde eu encontrarei a calmaria do conhecimento e da verdade. Aí eu serei livre, livre de todos os temores. De onde eu ouvirei duplamente essa voz de dentro de mim e do coração de Deus: “Sou eu. Não tenhais medo!”.
Minha bênção fraterna.
Padre Luizinho
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