Há 800 anos, o pobre de Assis que ficou conhecido como São Francisco, compôs o Cântico das Criaturas, um hino em que plasmou a sua teologia e cosmovisão. Tudo e todos são criaturas de Deus, são «irmãos», porque filhos do mesmo Pai, devendo manifestar-se na harmonia e num espírito de fraternidade.
Este texto deu ao mundo muitas coisas, entre as quais a padronização de uma forma escrita do italiano antigo, mas também uma fonte de inspiração para uma verdadeira «ecologia integral». O próprio cardeal Bergoglio, ao ser eleito Papa, em 2013, tomou o nome de Francisco porque se inspirou em São Francisco de Assis e do século XII-XIII trouxe para o século XXI a sua forma simples e desprendida de viver no mundo, respeitando todas as criaturas de Deus, desde o ser mais simples da natureza até ao complexo ser humano, imagem do próprio Deus. Quis que fosse a marca do seu pontificado.
Em 2015, o Papa Francisco intitulou um dos seus primeiros documentos, com as primeiras palavras do Cântico das Criaturas, chamando à sua encíclica sobre o cuidado da Casa Comum – «Laudato si», «Louvado sejas…». Foi a primeira vez que uma encíclica papal foi intitulada numa língua que não o latim.
O cuidado com a Casa Comum, o planeta Terra, é um dever de todos os cristãos e de toda a humanidade. Não temos outro espaço onde viver e fazer prosperar a nossa civilização. Mas este dever tem de ser realizado através de uma ecologia integral, que abarca e integra tudo e todos, não apenas os animais ou as plantas, mas também todos os seres humanos.
Defender uma ecologia integral é afirmar que todos os seres têm o seu espaço e o seu lugar na Casa Comum e não apenas os seres humanos que podem destruir os recursos naturais e a flora ou a fauna sem terem em conta o equilíbrio dos ecossistemas e o amanhã. Mas também não defende o animalismo ou síndrome do Noé, defendendo que o Homem está a mais no planeta ou colocando os animais no lugar das pessoas, dando-lhes cuidados e atenções próprias dos seres humanos.
Há que haver um equilíbrio entre a Humanidade e a Natureza. O Homem faz parte da Natureza e através da sua racionalidade deve usar os recursos para o bem de todos os seres humanos.
É imperiosa uma justa distribuição dos recursos e a preservação da nossa casa comum, alicerçada numa economia justa e não predatória da Natureza e do homem pelo homem.
Como seria belo viver num «oikós», casa em grego, onde todos têm o suficiente e nada nem ninguém é destruído para prazer ou necessidade do outro. É no étimo «oikós» que palavras como economia, ecologia, ecumenismo, têm a sua origem.
A casa é só uma. Temos de viver juntos, cada ser no seu lugar do ecossistema, procurando ter uma atitude de simplicidade, como Francisco de Assis há 800 anos, em 1225, e poder cantar a beleza da Criação e do Criador. Façamos deste sonho a nossa realidade.
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