Francisco condena «crueldade» de sociedade que «descarta» crianças e idosos

Papa encerra visita de homenagem ao Padre Pio e diz que não basta fazer «like» nas páginas dos santos

San Giovanni Rotondo, Itália, 17 mar 2018 (Ecclesia) – O Papa deixou fortes críticas a uma sociedade que “descarta” crianças e idosos, falando em práticas de “crueldade”

“Descartam as pessoas, as crianças, os idosos, porque já não têm utilidade”, disse, na homilia da Missa que reuniu milhares de pessoas no exterior da igreja de São Pio de Pietrelcina, na localidade de San Giovanni Rotondo.

Junto ao santuário dedicado ao santo, conhecido como Padre Pio, uma das figuras católicas mais conhecidas do século XX, Francisco recordou a impressão que lhe provocavam os relatos de infanticídio na antiga Esparta, quando os bebés não obedeciam aos padrões da cidade.

“Irmãos e irmãs, fazemos o mesmo, com mais crueldade, com mais ciência: o que não serve, o que não produz, é descartado. Esta é a cultura do descarte, os pequeninos já não desejados, hoje, e por causa disso Jesus é deixado de parte”, declarou.

O Papa, que tinha visitado antes uma ala de oncologia pediátrica no hospital fundado pelo Padre Pio, convidou a ver Jesus nos doentes e nos mais fracos.

“Quem toma a seu cuidado os mais pequenos está do lado de Deus e vence a cultura do descarte, que, pelo contrário, tem predileção pelos poderosos e considera inúteis os pobres. Quem prefere os pequenos proclama uma profecia de vida contra os profetas de morte de todos os tempos, também de hoje”.

Francisco aludiu ainda à admiração que muitos sentem pelas figuras dos santos católicos, como o Padre Pio, mas lamentou que poucos estejam dispostos a imitá-los.

“Muitos estão dispostos a fazer ‘gosto’ na página dos grandes santos, mas quem faz como eles? Porque a vida cristã não é um ‘gosto’, mas um ‘dou-me’. A vida perfuma quando é oferecida como dom”, sustentou.

A homilia falou da importância da oração, como louvor a Deus e adoração, não apenas como “chamadas de emergência”, e deixou uma questão: “Nós, cristãos, rezamos o suficiente?”.

São Pio de Pietrelcina, acrescentou o Papa, deixou como herança os “grupos de oração”, como “gesto de amor” pelos outros e por Deus, uma obra de misericórdia espiritual.

Francisco convidou a valorizar a “pequenez”, a humildade de coração, e a viver com “sabedoria”, que desarma o mal.

“São Pio combateu o mal durante toda a vida e combateu-o com sabedoria, como o Senhor: com a humildade, com a obediência, com a cruz, oferecendo a dor por amor. E todos o admiraram, mas poucos fazem o mesmo”, advertiu.

O santo Padre Pio (1887-1968), religioso capuchinha, é uma figura muito admirada pelo Papa, que no Jubileu da Misericórdia decidiu expor no Vaticano o corpo do religioso, para veneração dos fiéis católicos.

San Giovanni Rotondo fica na região da Campânia, província de Benevento, e já recebeu as visitas de João Paulo II, em 1987, e de Bento XVI, em 2009.

Francisco falou do Padre Pio como um “apóstolo do confessionário”, realçando que no Sacramento da Reconciliação se propõe aos católicos uma vida “amada e perdoada”, que recomeça a partir da “cura do coração”.

A viagem nos “passos” de São Pio tinha começado em Pietrelcina, assinalando o centenário da aparição dos estigmas recebidos pelo religioso.

Francisco seguiu depois, de helicóptero, para San Giovanni Rotondo, no leste da Itália, onde visitou Hospital “Casa Alívio do Sofrimento”, passando pelo serviço de oncologia pediátrica.

Acompanhado apenas pelas câmaras do Vaticano, o Papa esteve com mais de 20 crianças e seus pais, tendo abraçado e segurado nos braços alguns dos pequenos doentes.

Já no santuário dedicado a São Pio de Pietrelcina, ao lado do ministro provincial dos Capuchinhos, e outros responsáveis religiosos, rezou em silêncio, durante vários minutos, diante da urna de cristal que conserva o corpo do Padre Pio, exposto diante do altar do Santuário de Nossa Senhora das Graças.

Francisco aproximou-se do crucifixo que recorda o episódio dos estigmas, tocou-o e beijou-o; voltou à oração diante do corpo do Padre Pio, deixando sobre a urna uma estola vermelha, como presente pessoal.

O Papa regressa ao Vaticano de helicóptero, numa viagem de cerca de uma hora.

Fonte: Agência Ecclesia