Do trono aos altares: Isabel de Aragão

Isabel de Aragão casou com Dom Dinis, o rei de Portugal. Homem culto escolhe Isabel para esposa e oferece-lhe Óbidos, Porto de Mós, Abrantes e mais doze castelos.
Culta, generosa, sensível, corajosa, foi educada para rainha, mas distinguia-se de todas as outras por proteger e confortar os pobres e os marginalizados pela sociedade e por se dedicar à oração, ao jejum, à meditação. Devota da Nossa Senhora da Conceição, ajuda a firmar este culto.
O seu nascimento vai pôr fim a algumas discórdias que pesavam sobre a coroa aragonesa: o seu avô Jaime I chama-a carinhosamente de “rosa da Casa de Aragão”.
Em Portugal, acompanha o rei em muitas diligências e a sua presença e desvelo para com todos, especialmente, com os mais fracos, tornam-na querida do povo que lhe atribuiu o título de “santa”. O povo via nela um anjo protetor: atenta aos mais necessitados, criou diversas instituições para acolher pobres e doentes, viúvas e órfãos. Quando fica viúva, retira-se para o Convento das Clarissas, em Coimbra, onde veste o hábito mas não professa votos para poder dispôr da sua fortuna para as obras que já tinha em curso. O rei Dom Dinis nem sempre aprovou esta forma de ser da rainha e muitas vezes a tentou contrariar, mas ela encontrava sempre uma forma de ajudar quem precisava. É-lhe atribuído o “milagre das rosas”: o pão e as moedas que leva escondidos no regaço transformam-se em rosas diante do rei. Era Janeiro. Um milagre semelhante é atribuído a Isabel da Hungria, sua tia-avó.
É mediadora de diversos conflitos, nomeadamente entre o rei, seu marido, e o irmão D. Afonso e entre o rei e o príncipe herdeiro. Morre em Estremoz quando vai conciliar o filho, Afonso IV, com o neto, Afonso XI de Castela, e terminar uma luta entre ambos. Tinha 66 anos, estava enferma e partiu de Coimbra, para mais uma vez harmonizar os desavindos. O filho escuta-a e atende ao seu pedido. Foi sepultada em Coimbra, cumprindo-se assim o seu pedido.
É beatificada em 1516, pelo Papa Leão X e canonizada por Urbano VIII.
No Romanceiro e Cancioneiro Popular Português aparece esta referência:
“Romance da Rainha Santa Isabel
Peço graça com fervor
Do divino Manuel,
Para que haja de rezar
Da Rainha Santa Isabel:
Em Saragoça nascida,
Segundo a oração diz,
Foi rainha mui querida,
Mulher d’el-rei Dom Dinis;
Aos pobres socorria
Com entranhas do coração;
Pois de ninguém se fiava,
Sua esmola apresentava
Com a sua própria mão.
Vindo a “santa” um dia,
Com seu regaço ocupado,
Pelo tesouro que havia,
Com el-rei eis encontrada!
«Que levais aí, Senhora?
Levo cravos e mais rosas,
Para mais nossa alegria.
Bem sei que levais dinheiro,
Segundo sois costumada;
Antes que muito me cheira,
Rosas em Janeiro,
É de maravilha achá-las!»
A Senhora
O seu regaço lhe amostrou,
Cravos e rosas achou,
Um cheiro que admirava.
«Ó rainha excelente!
Meu tesouro podeis dar,
Minha coroa empenhar
Porque tudo estou contente.»
Estando a “santa” um dia
Na sua sala sentada,
Chegou-lhe um pobre chagado,
Se o podia arremediar;
Ela lhe disse
Com palavras de amor:
«Mandarei chamar o doutor,
Que vos haja de curar.
Senhora, se queredes
Ter o vosso coração inflamado,
Deitai-me na vossa cama,
Que eu serei remediado.»
A Senhora
De pés e mãos o lavou,
Na sua cama o deitou.
Um cavaleiro, que no paço
Havia encontrado,
A el-rei tudo é contado.
Vindo el-rei muito agastado,
Com tenção de a matar,
Contra a clemência que usava;
Na cama onde repoisava
Deitar um pobre chagado.
A Senhora correu o cortinado,
Achou Jesus crucificado!
Muito chorou o rei com ele
Dos milagres, que ela tinha obrado.
Em Estremoz acabou
Em Coimbra está sepultada,
No convento que formou
De Santa Clara sagrada.”
Esta foi a rainha que se tornou santa. Rainha Santa Isabel de Portugal, rogai por todos nós, desvalidos, neste tempo de incerteza e receio, mas de esperança e fé!
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Paula Ferraz
Mãe, avó e membro da Comunidade Canção Nova. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, Formadora acreditada em língua portuguesa e das literaturas lusófonas e clássicas, pós graduada em Mediação Intercultural, certificada em Filosofia para Crianças e Jovens e Mestrado em Ensino do Português como língua segunda/língua estrangeira.