Como aceitar nossos erros

Errar faz parte da natureza humana, e todos nós podemos, em algum momento da vida, cometer enganos. Admitir nossos erros, porém, nem sempre é tarefa fácil, e lidar com nossas fraquezas exige um aprendizado que dura a vida inteira. Segundo estudiosos, a principal dificuldade que temos para aceitar nossos limites e erros está ligada à falsa crença de que, na maioria das vezes, nós os herdamos de nossa própria educação familiar; de que só seremos amáveis e úteis se formos perfeitos. Sendo assim, admitir que erramos incomoda o ego e soa para ele como fraqueza ou ignorância. Daí, nasce a luta, muitas vezes, estressante contra nossas falhas; a ponto de nos tornamos intolerantes também quanto aos erros dos outros e, consequentemente, sermos uma pessoa menos agradável do que poderíamos ser.

Ao meu ver, existem três dicas que podem nos ajudar nesse processo de convivência com nossos limites:

Sem condenação

A primeira é lembrarmos que a perfeição pertence somente a Deus, e que, por mais sábios, bonitos e agradáveis que sejamos, também temos defeitos, somos “sinfonias incompletas”. Podemos e devemos tentar ser melhores, é verdade, mas sem condenação. Quem se cobra demais e evita errar passa pela vida de maneira tão tensa, que se esquece de viver de verdade.

Sem pressão psicológica

A segunda sugestão é não fazermos comparações. Compararmo-nos com pessoas que admiramos e tentarmos ser iguais a elas coloca em risco nossa própria felicidade, porque agir assim seria abandonar o projeto de Deus para nossa vida, para tentarmos viver o projeto que Ele sonhou para outra pessoa.

James Martins, grande escritor jesuíta, afirma que a autoaceitação é o primeiro passo para a santidade. Não é preciso usar o mapa de alguma outra pessoa para chegar ao céu, porque Deus já colocou dentro da alma de cada um de nós todas as direções de que precisamos. Isso, ao meu ver, também significa aceitar a própria personalidade com seus dons e limites, uma vez que fomos criados por Deus assim como somos, e é assim que Ele espera nos receber na eternidade. É claro que isso não dispensa nossa mudança de atitudes, para nos tornamos melhores, porém, sem a pressão psicológica de termos de ser diferentes do que somos na essência. Existem comportamentos que fomos adquirindo ao longo da vida por várias razões, mas, no fundo, sabemos que eles não nos pertencem, e existem outros que expressam o que realmente somos. É desse segundo que falo, pois o que somos deve ser sempre preservado.

Comparações não ajudam

Fazer comparações com outras pessoas e pensar que para elas as coisas funcionam melhor, é muito fácil, mas essa maneira de pensar, além de falsa é também perigosa, pois nos afasta da realidade mais linda que existe: Deus nos ama com exclusividade e exatamente como somos! Ele nos criou com todas as capacidade e talentos que temos e estabeleceu conosco, desde o momento em que começou nossa existência, um relacionamento profundo que durará para sempre. Ele sabe dos nossos desejos mais profundos e não é alheio às nossas quedas, mas está conosco aconteça o que acontecer, estejamos onde estivermos, como lembra o Salmo 138: “Senhor, Tu me sondas e me conheces…”. Ele nos convoca a sermos quem realmente somos para trazer alegria à nossa própria vida e a este mundo que não seria o mesmo se não existíssemos.

Tenhamos calma com nós mesmos

A terceira dica, portanto, é: sejamos pacientes com nós mesmos e com nosso processo. A paciência é uma companheira indispensável para quem deseja lidar melhor com seus erros. Santo Inácio de Loyola faz uma comparação interessante de Deus como um artesão Todo-Poderoso. Diz ele: “A lenha rústica e intocada não tem ideia de que pode se transformar em uma estátua que será considerada uma obra-prima, mas o escultor antevê o que pode ser feito com ela. Muitos não entendem que Deus pode esculpi-los em santidade, até se entregarem às mãos do artesão Todo-Poderoso e deixar-se moldar por Ele.”

Por natureza, somos impacientes e queremos resultados sempre imediatos; com relação aos nossos erros não é diferente. No entanto, o trabalho lento de Deus é a regra para grandes progressos. Tenhamos calma com nós mesmos e percebamos que, enquanto vivemos um dia de cada vez, conhecendo-nos melhor e deixando-nos moldar por Deus, nossas ideias amadurecem e os erros perdem a força que hoje têm. Não tentemos forçar o Senhor, como se pudéssemos ser agora o que o tempo, com a graça e as circunstâncias, atuando diretamente em nossa vida, nos tornará amanhã. Demos a Deus o benefício da confiança de que Ele nos conduzirá pelo melhor caminho e aceitemos o desafio de passar por este mundo como “obra inacabada”, sempre diante dos olhos amorosos do artesão que pode, a qualquer hora, aprimorar ainda mais o trabalho de suas mãos.

Fonte: formacao.cancaonova.com