Como a nossa história pessoal influencia nossa história de amor?

Por que nossa história de vida pode refletir nossa história de amor?


Quando falamos de amor, pensamos logo naqueles contos de fadas, de amor à primeira vista ou aquelas comédias românticas, em que os contrários se atraem com algumas engraçadas situações a dois. Porém, o que pouca gente sabe é que nossa escolha de hoje por alguém que amamos teve início lá traz, quando ainda nem falar sabíamos. Sim, nossa história pessoal tende a influenciar muito nossa história de amor.

Quando nascemos, somos lançados em uma relação de amor, primeiro mãe e filho, depois, dos braços da mãe, lançamos olhar sobre o pai e os demais membros da família. Tudo isso na linha do afeto. Maneiras de exprimir sentimentos e emoções, que vão marcando e delimitando nossa personalidade e, diga se de passagem, marcando nosso jeito de nos relacionarmos.

Como se relacionam o homem e a mulher?
Aqui, teremos contato, pela primeira vez, com o universo masculino e feminino. O jeito que esses se relacionam e se posicionam. Nossa sexualidade e afetividade será marcada pelo que recebemos e como interagimos nessas relações. Sua história de segurança ou insegurança, autoestima, ternura, abertura ao outro, tudo foi, de maneira embrionária, formado pelos primeiros vínculos.

Nosso inconsciente, ou seja, tudo aquilo (sentimentos, percepções, sensações etc.) que vivemos, desde nossa concepção, está “guardado”, arquivado. Mesmo que não nos lembremos, porém, nossos “registros internos” ficam intactos. O inconsciente é formado, principalmente, pelas relações que estabelecemos. Há muita energia, muito vida, mesmo que determinados conteúdos permaneçam adormecidos, em estado latente, durante longo espaço de tempo. Estímulos atuais, fornecidos por interesses e/ou por objetos significativos, podem fazer com que se movimentem fontes de energia até então desconhecidas.

Na escolha do cônjuge, esse inconsciente entra com força, conteúdos conscientes e inconscientes se movimentam e nos levam atrairmos e escolhermos aquele “sujeito de nosso amor”. Desses fazem parte impulsos, fantasias e mecanismos de defesa entre outros. O eleito consistiu num verdadeiro símbolo, e a atração que ele exerce se deve exatamente àquilo que ele provoca ou representa, como o pai ou a mãe, a proteção ou o abandono, a confiança ou desconfiança etc.

Autoconhecimento
Na escolha do outro, nem sempre damos conta desses movimentos internos, pois, literalmente, estamos cegos pela paixão. Idealizamos e somos idealizados. Talvez tenhamos, em nosso inconsciente, a marca de “uma falta de amor materno que cuidasse”. Nessa hora, como homens, procuraremos, na mulher, “esse cuidado”, projetaremos nela esse desejo. Porém, nossa “necessidade” de cuidado pode ser inversa àquilo que ela tem a nos oferecer; o jeito de ela cuidar não satisfaz. Nessa hora, se não reconhecermos que temos uma necessidade primária, não teremos condições de, livremente, acolher o cuidado que ela tenha a me oferecer, que é distinto do que queria.

O presente está unido ao passado, e o cônjuge, na maioria das vezes, representa pessoas importantes dos tempos mais antigos, ainda que tais lembranças tenham sido inteiramente eliminadas da consciência. Qualquer relacionamento significativo, por mais realista que seja, implica essa mistura entre passado e presente, realidade e fantasia.

Quanto mais imatura for a pessoa, porém, mais o momento atual está contaminado por suas distorções e pela necessidade urgente de curar as feridas ou satisfazer os desejos, oriundos de sua primeira infância.

Quanto mais conscientes de nossa história, apropriados de nossos sentimentos e emoções, mais viveremos nossas escolhas afetivas com liberdade e inteireza. Seremos menos vítimas de um passado, seja ele bom ou ruim. A escolha do cônjuge precisa ser madura, sincera, partir de um autoconhecimento que nos faz inteiros e capazes de estar inteiro para o outro. E assim poder oportunizá-lo, mostrar inteiro a mim. Só assim nos beneficiaremos mutuamente desse relacionamento.