Retiro Popular na Quaresma de 2017

Neste tempo propício da Quaresma, somos convidados a uma atitude de conversão do coração. Neste contexto, é-nos particularmente cara a mensagem oferecida à humanidade em Fátima. Apresentando o olhar de esperança e de misericórdia com que Deus nos olha, somos encorajados a não nos deixarmos vencer pela indiferença que banaliza o mal, mas a deixar que o nosso coração se identifique com Cristo e a assumir a sua atitude de compromisso diante da vida.” É assim que D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, apresenta esta proposta de retiro popular para esta Quaresma de 2017.

TEMA 1

Adoração e compromisso – As Aparições do Anjo em Aljustrel, em 1916

Breve contextualização
A mensagem que guardamos de Fátima inicia-se com a vinda do Anjo da Paz, na primavera de 1916. Com aquela figura transparente, a Jacinta, o Francisco e a Lúcia aprendem a disposição interior para o encontro com Deus, aprendem o valor imenso que tem a oferta de si mesmos, experimentam como, por amor, não se perde a mais pequena coisa. Foi nos lugares em que costumavam passar os seus dias que o Anjo os procurou, ora onde pastoreavam as ovelhas na Loca do Cabeço (1.ª e 3.ª aparições), ora no poço da casa dos pais de Lúcia, onde costumavam estar e brincar (2.ª aparição). Sobre esta experiência, disse mais tarde Lúcia: «estas palavras do Anjo gravaram-se em nosso espírito, como uma luz que nos fazia compreender quem era Deus, como nos amava e queria ser amado» (MIL, p. 170). Certos de que a mensagem trazida pelo Anjo não fica presa no passado, mas torna-se viva hoje, escutemos as suas palavras na aparição aos Pastorinhos, no verão de 1916. Escutaremos, depois, a passagem da vida de Jesus, em que, por entre as oliveiras, reza a sua entrega ao Pai.

Leitura das Memórias da Irmã Lúcia (MIL, p. 78)
Passado bastante tempo, em um dia de verão, em que havíamos ido passar a sesta a casa, brincávamos em cima dum poço que tinham meus pais no quintal a que chamávamos o Arneiro. De repente, vemos junto de nós a mesma figura ou Anjo, como me parece que era, e diz:
– Que fazeis? Orai, orai muito. Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente, ao Altíssimo, orações e sacrifícios.
– Como nos havemos de sacrificar? – perguntei.
– De tudo que puderdes, oferecei a Deus sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai, com submissão, o sofrimento que o Senhor vos enviar.

Evangelho segundo São Lucas (Lc 22, 39-46)
Jesus saiu então e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. Quando chegou ao local, disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» Depois afastou-se deles, à distância de um tiro de pedra, aproximadamente; e, pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.»
Então, vindo do Céu, apareceu-lhe um anjo que o confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. Depois de orar, levantou-se e foi ter com os discípulos, encontrando-os a dormir, devido à tristeza. Disse-lhes: «Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.»

Notas para a compreensão do tema
Passando o nosso olhar sobre a Sagrada Escritura, vemos como são inúmeras as vezes em que Deus, com um coração de Pai que nunca abandona os seus filhos, envia mensageiros seus ao povo de Israel: «Eis que Eu envio um anjo diante de ti, para te salvaguardar no caminho e para te fazer entrar no lugar que eu preparei», lemos no livro do Êxodo (23, 20-23). Em Fátima, vemos precisamente um Anjo enviado por Deus àquelas três crianças de Aljustrel, um Anjo que as conduzirá à contemplação de Deus e a uma vida entregue pelos outros, um Mensageiro que convida à oração no meio da vida, para fazer da vida oração. O itinerário desenhado pelas aparições do Anjo revela-nos um Pai com um rosto cheio de misericórdia, que se ocupa da nossa vida, que se preocupa com os nossos corações e caminhos.

Tópicos de meditação
«Depois afastou-se deles, à distância de um tiro de pedra, aproximadamente; e, pondo-se de joelhos, começou a orar».
Como era costume, Jesus afastou-se com os seus discípulos para um lugar isolado a fim de rezar ao Pai. Era lugar de encontro do Mestre com os seus amigos; ali volta ao aproximar-se a hora da Sua entrega.
No encontro com o Anjo, os Pastorinhos ficaram marcados por esta necessidade de se retirarem também eles para rezar. Conta Lúcia que numa altura em que Jacinta a vê aflita, lhe disse: «Vou-me já levantar e vou chamar o Francisco. Vamos para o teu poço rezar. Quando voltares, vai lá ter» (MIL, p. 50).
Dou tempo a Deus para que fale ao meu coração? Procuro estar com o Senhor? Vou procurá-lo quando me encontro num momento difícil?

«Quando chegou ao local, disse-lhes: “Orai, para que não entreis em tentação.” […]».
O convite que Jesus faz aos seus discípulos perpassa toda a sua pregação, a sua vida partia desse encontro sempre constante com o Pai. Jesus ensina aos seus que a oração é o caminho para a perseverança, para a fidelidade na hora da provação. O Senhor desinstala e convida à vigilância: «Porque dormis? Levantai-vos e orai». É o mesmo que dizer: esta é a hora em que vos peço companhia.
No encontro do Anjo com os pequenos pastores, vemos um reflexo deste apelo à oração a orientar toda a ação para a intimidade com Deus: «Que fazeis? Orai, orai muito». Também os Pastorinhos aprendem que é o encontro com o Senhor que os fará experimentar os desígnios de misericórdia que brotam dos Corações de Jesus e Maria.
Como é que o Senhor me encontra quando me visita? Vigilante e disponível ou adormecido na fé?

«Pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: “Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua”».
Jesus reza a oração dos pobres. A oração de quem confia à vontade do Pai a vida e a morte.
A Lúcia recorda um episódio em que, entre as incompreensões de tanta gente, se refugiava no poço com seus primos; ali eles sofriam com ela, a ponto de “derramarem também abundantes lágrimas”. E, ao jeito de Jesus, faziam o seu oferecimento: “Meu Deus, é em ato de reparação e pela conversão dos pecadores que Vos oferecemos todos estes sofrimentos e sacrifícios.” (MIL 2, p.81).
De que forma confio na vontade de Deus e na sua misericórdia em todas as suas circunstâncias da minha vida?

«Então, vindo do Céu, apareceu-lhe um anjo que o confortava».
Na oração, Jesus encontrou conforto na presença do Anjo vindo do Céu.
«De tudo o que puderdes, oferecei a Deus sacrifício […]. Atraí assim, sobre a vossa Pátria, a paz» — disse o Anjo aos Pastorinhos. Também hoje o Senhor se comove diante das nossas angústias e deseja ardentemente confortar-nos. Se nos abrirmos a Deus de coração sincero, receberemos a sua paz.
O que posso entregar ao Senhor das minhas angústias e sofrimentos para que Ele me conforte e cure e conceda ao mundo a sua paz?

 

in Retiro Popular Quaresma 2017: “Eu nunca te deixarei”
Diocese Leiria-Fátima