Mensagem de Natal da Conferência Episcopal
Se o Advento é Deus que vem encher o nosso tempo de “Bom-Dia”, e provocar-nos a responder e fazer assim também, o Natal é Deus que vem nascer em Belém e no nosso coração também. Não se trata, pois, de um Deus que vive apenas para si mesmo, que pensa apenas em si mesmo, que se ama apenas a si mesmo, que não é afetado por nada do que é nosso, permanecendo, por isso, instalado no seu mundo dourado, alheado da nossa situação. Não, o Deus do Advento e do Natal é um Deus em missão, que desce ao nosso chão, nos toma pela mão e se faz nosso irmão.
Que Luz é esta que arde em Belém? A Luz do Natal não é a luz natural, do sol e da lua (Isaías 60,19; Apocalipse 21,23); é a Luz pessoal, primeira e verdadeira, que vem a este mundo (João 1,9; 8,12), e alumia, alumia, alumia, irradia, irradia, irradia, Luz sem noite e sem dia (Zacarias 14,7), de Alto-a-baixo erguida, como um manto de orvalho caída, como uma ermida, uma jazida de Luz e de Jesus. Eis o Natal de Jesus em Belém. O que fostes ver, pastores, o que fostes ver a Belém? Fomos ver Jesus, fomos ver a Luz Gerada e o seu Gerador. Oh que Luz grande, que Lume novo, que Amor imenso, que centelhas de fogo vimos saltar daquela Chama sempre acesa (Cântico dos Cânticos 8,6), que chama e ama, e converte em relhas de arado cada arma (Isaías 2,4; Miqueias 4,3). Vimos ainda que aquela Lareira não se confina em Belém, mas se estende pela Terra inteira, e alumia e acende cada humano coração de Paz e Bem. A Luz e o Lume e o volume do Amor novo dessa Central Luminosa e Térmica expandem-se por invisíveis fios de altíssima e finíssima tensão que é urgente levar de artéria em artéria, de mão em mão, de coração a coração.
«Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado» (Isaías 9,5). Oh Emanuel, oh Deus connosco, no meio de nós! Esta Luz nova não a quis ver Acaz, teve medo dela, não a viu Herodes, não a viram os guardas, não a viram os sábios, que arrastavam os olhos por velhos alfarrábios (Mateus 2,3-6). Viram-na os pastores, viram-na os magos, pegaram nela à mão, levaram-na aos lábios, deitaram-na no coração.
Havia lá uma sala, em grego katályma, onde se acomodavam os hóspedes que estavam de passagem (Lucas 2,7). Mas não havia nessa sala lugar para os pobres que Deus conduzia do país da meia-noite, entre eles José e Maria, que estava grávida e quase a dar à luz (cf. Jeremias 31,8). Foi por isso que Jesus, a Luz, vai nascer no estábulo ali ao lado, que os animais gratuitamente acederam partilhar com Ele. Ali mesmo é acariciado, bafejado de ternura, carinhosamente enfaixado e deposto na manjedoura (Lucas 2,12). Isaías 1,3 antecipou a cena e gravou, com o fulgor da sua pena, o manso boi e o pacífico jumento comendo as flores de açucena da vara de José sentado ao Lume e bafejando depois suavemente o Menino de perfume. Enquanto os meigos animais vão comer à mão do dono, o meu povo, diz Deus, não me conhece e perde-se nos buracos de ozono. Se o jumento corou e o boi se ajoelhou, não deixemos nós de orar também. Contemplemos longamente o Presépio. Mas contemplemos já também a Cruz de Jesus. E voltemos a olhar para aquela sala adormecida e esterilizada, onde não há lugar nem para eles nem para nós (Lucas 2,7), mas olhemos já também, em contraluz, para aquela sala grande da Ceia da Páscoa, onde há sempre lugar para eles e para nós (Lucas 22,11). Passemos também o nosso olhar contemplativo por aquele Menino bafejado de carinho, cuidadosamente enfaixado e deposto na manjedoura. Mas não deixemos de ver também já e ao mesmo tempo Jesus descido da Cruz, também carinhosamente enfaixado (cf. João 19,40), excessivamente perfumado (cf. João 19,39) e deposto no sepulcro (cf. João 19,41). Tanta Páscoa no Natal. Tanto Natal na Páscoa. Mistério condensado de Luz e de Jesus.
Uma tal inundação de Luz e de Jesus, uma Chama assim, reclama a nossa atenção e o nosso Sim. Vendo bem, com toda a atenção, verificamos que só os pobres, com o olhar limpo e o coração puro, entram verdadeiramente neste quadro sublime do Natal de Jesus. Estão lá já Maria, José, o Menino, os animais e os pastores. Consideremos outra vez os pastores! Eram os últimos da sociedade, descartados e desprezados, não praticantes de nenhuma religião oficial. Todavia, para espanto nosso, são eles que recebem do céu o Sinal (Lucas 2,12), que Acaz não quis ver (cf. Isaías 7,12), e rejubilam, correm, rezam, cantam e entram no quadro daquele estábulo, no retábulo daquele Natal de Jesus. Têm direito a treze versículos na narrativa do Evangelho de Lucas! Em contraponto, os senhores do mundo – César Augusto, imperador romano, e Pôncio Quirino, prefeito romano da Síria –, não entram sequer no quadro, ficam petrificados no caixilho, no caixilho histórico-geográfico, e são despachados com um único versículo cada um! Despachados. Sim, porque o Deus do Natal dispersa os soberbos, depõe os poderosos, despede os ricos, mas acolhe os pobres, exalta os humildes, sacia os famintos (cf. Lucas 1,51-53), com o pão do céu que manifesta a doçura, literalmente a glicose de Deus pelos seus filhos queridos (cf. Sabedoria 16,21).
Perante tão intensa página de beleza, que Deus sonhou e escreveu no Presépio de Belém, e escreve e sonha Hoje aqui também, compete-nos “sonhar para a frente”, um sonho diurno, proativo, que traz à tona ideias ou ideais que não pedem tanto interpretação, mas sobretudo elaboração! Fica então aberto o laboratório do Natal. O laboratório das vacinas, mas sobretudo o laboratório da nossa vida, do Amor, da Paz e da Alegria, pois é necessário produzir esperança e encanto neste tempo de pandemia e de tristeza, de indiferença e de aspereza, com datas, mas sem estações, com meios, mas sem canções. É necessário embalar as crianças e os velhinhos, os que trabalham, os que sofrem e os que morrem. Há tanta gente ao abandono. Mas este é o tempo de contemplar o Presépio, de viver com alegria a estação do Natal e de acolher a surpresa de Deus, que em missão nos visita com a riqueza da pobreza (2 Coríntios 8,9). Vem, Senhor Jesus! O mundo precisa tanto da tua Luz!
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