A pureza do coração foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira. “Para ver Deus, não há necessidade de trocar de óculos ou ponto de vista, é preciso libertar o coração de seus enganos”, disse o Pontífice quando também dirigiu seu pensamento aos profissionais da comunicação a fim de que ajudem as pessoas a suportar este período de isolamento.
“A pureza do coração”. Esta sexta bem-aventurança foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (01/04), realizada na Biblioteca Apostólica Vaticana, devido à pandemia do Covid-19.
“Procurem minha face! É tua face que eu procuro, Senhor. Não me escondas a tua face.” Com esta passagem do Salmo 27, Francisco sublinhou que “esta linguagem manifesta a sede de uma relação pessoal com Deus, expressa também no Livro de Jó como sinal de uma relação sincera: “Eu te conhecia só de ouvir. Agora, porém, os meus olhos te veem”.
“Como alcançar essa intimidade?”, perguntou Francisco. “Podemos pensar nos discípulos de Emaús, que têm o Senhor Jesus ao seu lado, mas seus olhos não o reconheciam. O Senhor abrirá os seus olhos no final de uma caminhada que terá o seu ápice na partilha do pão, mas tinha iniciado com uma repreensão: “Tolos e lentos de coração para acreditar em tudo o que os profetas falaram”. Esta é a origem de sua cegueira: o seu coração tolo e lento.”
Libertar o coração de seus enganos
Aqui se encontra a sabedoria dessa bem-aventurança: para poder contemplar é necessário entrar em nós e abrir espaço para Deus, pois, como diz Santo Agostinho, “Deus é mais íntimo para mim do que eu mesmo”. Para ver Deus, não há necessidade de trocar de óculos ou ponto de vista, é preciso libertar o coração de seus enganos!
“Este é um amadurecimento decisivo: quando percebemos que o nosso pior inimigo está escondido em nosso coração. A batalha mais nobre é aquela contra os enganos interiores que geram os nossos pecados”, sublinhou o Papa.
Conservar no coração o que é digno da relação com Deus
Para Francisco, é importante entender o que significa ‘pureza do coração’. “Para fazer isso, é preciso lembrar que, na Bíblia, o coração não consiste apenas em sentimentos, mas é o lugar mais íntimo do ser humano, o espaço interior onde a pessoa é ela mesma.”
“Mas o que significa coração “puro”?, perguntou o Pontífice.
O puro de coração vive na presença do Senhor, conservando em seu coração o que é digno da relação com Ele; somente assim é possível ter uma vida íntima “unificada”, linear, não tortuosa, mas simples.
Libertação e renúncia
Segundo o Papa, “o coração purificado é o resultado de um processo que envolve libertação e renúncia. O puro de coração não nasce como tal, viveu uma simplificação interior, aprendendo a renegar o mal em si mesmo, que na Bíblia é chamado de circuncisão do coração”.
Francisco sublinha que “essa purificação interior implica o reconhecimento daquela parte do coração que está sob a influência do mal, a fim de aprender a arte de deixar-se sempre instruir e ser conduzido pelo Espírito Santo. Através dessa caminhada do coração, chegamos a ver Deus”.
Ouvir a sede do bem que vive em nós
Nesta visão beatífica, há uma dimensão futura, escatológica, como em todas as bem-aventuranças: é a alegria do Reino dos Céus para onde caminhamos. Mas existe também outra dimensão: ver Deus significa entender os desígnios da Providência no que nos acontece, reconhecer sua presença nos Sacramentos, nos irmãos, sobretudo pobres e sofredores, e reconhecê-lo onde Ele se manifesta.
“Essa bem-aventurança é um pouco o fruto das precedentes: se ouvimos a sede do bem que vive em nós e estamos conscientes de viver em misericórdia, tem início uma caminhada de libertação que dura a vida inteira e nos conduz ao céu”, disse ainda o Papa. “É um trabalho sério e acima de tudo é uma obra de Deus em nós, nas provações e purificações da vida, que leva a uma grande alegria, a uma paz verdadeira e profunda”, concluiu Francisco.
Na provação, não estamos sozinhos, confiemo-nos a Cristo
Em suas saudações na Audiência Geral, o Papa Francisco recorda que Jesus é um amigo fiel, que nos acompanha e nunca decepciona, e que em sua cruz encontramos “apoio e consolo no meio das tribulações da vida”. Portanto, nos convida a confiar na intercessão de São João Paulo II nas vésperas do 15º aniversário de sua morte.
Saudação em língua portuguesa
Eis a íntegra da saudação em língua portuguesa.
Amados ouvintes de língua portuguesa, a todos saúdo e convido a viver com a Igreja inteira, em pensamento e de coração, a próxima Semana Santa, que coloca diante dos nossos olhos a Cruz onde Jesus assumiu e suportou toda a tragédia da humanidade. Não podemos esquecer as tragédias dos nossos dias, porque a Paixão do Senhor continua no sofrimento dos homens. Que os vossos corações encontrem, na Cruz de Cristo, apoio e conforto no meio das tribulações da vida; abraçando a Cruz como Ele, com humildade, confiança e abandono filial à vontade de Deus, tereis parte na glória da Ressurreição.
O homem, com medo, confia-se à Misericórdia Divina
Aos poloneses, o Papa recorda que o homem de hoje vê “os sinais da morte” presentes na civilização e “vive cada vez mais com medo, ameaçado no núcleo de sua existência”. Nestes dias difíceis, “os seus pensamentos corram para Cristo: saibam que vocês não estão sozinhos. Ele os acompanha e nunca decepciona”. Confiem na Sua “Misericórdia Divina e na intercessão de São João Paulo II nas vésperas do 15º aniversário de sua morte”, que recordaremos nesta quinta-feira, 2 de abril.
Nos eventos da vida, descubra a Providência do Senhor
Aos alemães, o Papa Francisco recorda que, ao contemplar “a face do Senhor crucificado e morto por nós”, neste período de provação, podemos reconhecer “em sua cruz a fonte da verdadeira esperança e alegria, através da qual Ele venceu todo o mal”.
Aos ouvintes de língua espanhola, sua língua nativa, o Papa pede para descobrir a Providência do Senhor “nos acontecimentos da vida cotidiana”. E nos convida a lembrar, nesses momentos de provação e escuridão, “todos os nossos irmãos e irmãs que sofrem, e aqueles que os ajudam e acompanham com amor e generosidade”.
Obrigado, jovens milaneses, não percam a esperança em Jesus
Por fim, entre os fiéis de língua italiana, Francisco saúda em particular “os grupos que tinham feito reservas para estarem presentes hoje” na Audiência Geral, dentre eles “os jovens da profissão de fé da Diocese de Milão”. “Queridos jovens, mesmo que sua peregrinação a Roma seja apenas virtual, quase sinto a sua presença alegre e barulhenta, concretizada também nas muitas mensagens que vocês me enviaram”. O Papa agradece e encoraja os jovens milaneses a “viverem sempre a fé com entusiasmo e a não perder a esperança em Jesus, amigo fiel que enche a nossa vida de felicidade, mesmo nos momentos difíceis”. Que esses últimos dias da Quaresma possam favorecer “uma preparação adequada da celebração da Páscoa, levando cada pessoa a uma proximidade maior a Cristo”.
texto: Vatican News
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