Muitos não conhecem a trajetória de um homem para chegar ao sacerdócio, e quando a descobrem, admiram-se pelo tempo de formação. Para uma melhor compreensão e uma resposta satisfatória, voltemos um pouco na história da Igreja e nas reflexões elaboradas pelos recentes Papas.
Foi a partir do Concílio de Trento (1563) que realmente foram criados os seminários nas dioceses, voltados para a formação da razão e da fé do futuro presbítero da Igreja. Antes disso, o homem que desejasse ser padre, logo recebia as ordens sacras, ajudando seu bispo local. Percebe-se, então, a contribuição desse concílio e mais especificamente a sua aplicação na vida de São Carlos Borromeu, que fundou seminários e escreveu regulamentos. Posteriormente, o Concílio Vaticano II e o Código de Direito Canônico elaboraram melhor sobre como deve ser a formação do clero. Atualmente, existem vários documentos que tratam do assunto, como o Decreto Optatam Totius, Pastores Dabo Vobis, Documento 93 da CNBB entre outros.
Missão na Igreja
Seminarista é aquele que recebeu um chamado de amor de Deus e, na liberdade, responde a Ele. O Papa emérito Bento XVI, no encontro com os seminaristas nos EUA, em 2008, diz que seminaristas são “jovens que se encontram num tempo forte de busca de um relacionamento pessoal com Cristo, um encontro com Ele, na perspectiva de uma importante missão na Igreja”.
Nas residências, geralmente seminários que podem ser o Menor ou Maior, os seminaristas recebem formação que convergem para a unidade da pessoa. Viver no seminário é estar neste tempo da descoberta de Cristo. É tempo de acolhimento e amadurecimento do dom recebido da iniciativa de Deus e não por méritos da pessoa. Tempo importante de relacionar-se com Deus, que se expressa de forma significativa na oração para um correto discernimento.
A idade, a retidão dos candidato, a idoneidade espiritual, moral e intelectual, a saúde física e psíquica, são critérios examinados pela Igreja na aprovação daqueles que desejam ingressar no seminário. (Optatam Totius, 6).
Quatro pontos importantes aos futuros sacerdotes
De forma simples e direta, o Papa emérito Bento XVI, na carta aos seminaristas, em 2010, ressalta alguns pontos para os futuros sacerdotes:
1- O seminarista deve ser um homem de Deus (1Tm 6,11). Jesus deve ser o ponto de referência de toda a sua vida;
2- Os sacramentos. Deve-se celebrar com íntima participação da Eucaristia. A penitência leva à humildade, e deixando-se perdoar, aprende-se a perdoar os outros. Também o Papa pede para não excluir piedade popular, porque, por meio dela, a fé entrou no coração dos homens;
3- Estudar com empenho, porque a fé possui uma dimensão racional e intelectual. É importante conhecer a fundo e integralmente a Sagrada Escritura. Amar o estudo da teologia;
4- Ser exemplo de homem maduro.
A formação humana, espiritual, intelectual e pastoral deve ser bem trabalhada pela equipe formativa dos seminários, mas o seminarista deve ser o primeiro interessado por ela.
Formação na Canção Nova
O tempo de formação do seminarista pode variar muito de acordo a realidade eclesial na qual ele está inserido. Hoje, na Comunidade Canção Nova, o candidato ao sacerdócio leva, pelo menos, 12 anos para ordenar-se. Nos dois anos iniciais, ainda dentro da comunidade, ele aprende sobre o carisma Canção Nova. Depois, estuda três anos de filosofia. Após um ano pastoral numa das casas de missão, ele cursa quatro anos de Teologia. No fim, se a Igreja e a comunidade admitirem, ele receberá as ordens sacras. No decorrer de todo esse caminho, ele precisa ser orante, fraterno e trabalhador.
Papa Francisco
O Bispo de Roma, como sempre, trabalha toda sua reflexão em três pontos. Em 2014, ele disse que o seminarista deve ser fraterno, orante e missionário. Identificam-se com os mesmos princípios da Canção Nova. A fraternidade é parte integrante do chamado, não se pode viver individualmente. A oração deve ser um convite ao Espírito Santo, como no Cenáculo, pois d’Ele depende a construção da Igreja, o guia dos discípulos e o dom da caridade pastoral. A missão deve torná-los discípulos humildes capazes de preferência pelas pessoas marginalizadas, aquelas das periferias. Levar as pessoas a acolherem a ternura de Cristo.
O seminarista não é um solteirão, mas um homem comprometido com o Senhor e Sua Igreja. Não está se preparando para receber uma profissão, mas para se configurar à imagem de Cristo, o Bom Pastor. Por fim, é preciso ter disposição, caso contrário é preciso buscar outra via para a santidade, pois a formação será permanente. É difícil a vida clerical, mas é bela se levada com seriedade. É admirável!
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