A importância de dizer não na educação dos filhos

Percebo que os pais, sem saber, têm criado uma geração de crianças intolerantes e doentes emocional e biologicamente.

A estratégia de substituir a ausência dos pais e o “medo” que os adultos têm do mundo os levam a se comportarem de uma forma “errônea”, conduzindo seus filhos a um mundo onde “tudo pode”. Criam pequenas bolhas para os filhos morarem e oferecem a eles um pequeno mundo que pode lhes ser frustrante quando se tornarem jovens e adultos, pois verão que o mundo não é como eles desejam e que as coisas nem sempre acontecem conforme a vontade deles.

Vejamos: A criança nasce como uma folha em branco, sem conhecimento de regras, sem saber o que é bom ou ruim. A responsabilidade que recai sobre os pais é ensinar aos filhos tais realidades. Até aqui tudo bem, a questão que se vivencia atualmente que é o “problema”.

É bom dar tudo o que a criança deseja?

Nós adultos estamos sabendo lidar com o mundo, com as dificuldades e frustrações que são vivenciadas nele sem que isso reflita nos filhos? Tudo o que o adulto faz, a criança observa atentamente para reproduzir não só no futuro, mas também no presente. É muito comum a criança desejar tudo o que vê; então, eu lhe pergunto: cabem no orçamento tais desejos? Se a resposta for ‘não’, por que então dar o ‘sim’ à criança! Se, no entanto, a resposta for ‘sim’, eu o questiono: será bom dar tudo o que ela deseja? Que tipo de benefício essa criança terá?

Se formos olhar as vontades de uma criança, ela comerá doces, lanches e petiscos o dia todo, logo pedirá a seus pais ou cuidadores que lhe ofereçam esses alimentos, pois é agradável ao paladar dela, são produzidos para ela.

Não digo que nunca devemos dar esse tipo de alimento aos nossos filhos, mas é importante equilibrar a alimentação deles, para que não haja o prejuízo futuro de uma doença como diabetes, colesterol alto e tantas outras. A obesidade, por exemplo, pode ser vivida não só na fase adulta, mas também precocemente na infância.

Chorar um pouco não causará nenhum processo traumático

O ‘não’ à criança, quando ela pede um alimento que poderá prejudicá-la, seja pelo seu excesso, o horário inoportuno ou até por não ter como comprá-lo, pode levá-la a uma pirraça inicial, mas tenha a certeza de que esta não durará mais que 30 minutos e não causará nenhum processo traumático.

Outra área que os pais têm dificuldade de dizer ‘não’ é em relação aos brinquedos. Existem mães que, pelo simples fato de trabalharem o dia todo fora de casa, sentem a necessidade de trazer um brinquedo novo ao fim de todos os dias para dar ao filho. Presentear sempre é bom, mas é preciso ter datas para isso: aniversário, Dia das Crianças, Natal e uma eventualidade ou outra. Frequentemente? Certifique-se de que é mesmo necessário.

A mídia oferece um mundo de brinquedos e todas as crianças os desejam. Mas os adultos precisam atender sempre a todos os pedidos? “O que vem fácil vai fácil.” Já ouviu esse ditado? É verdadeiro! Os brinquedos perdem a graça rapidamente e logo são deixados de lado, abandonados por surgir o desejo de obter outro. Pensem que as crianças, muitas vezes, estão apenas reproduzindo um padrão da vida adulta. Assim é feito com celular, roupas, sapatos, perfumes e tantos outros bens que são usados quase que de forma descartável na vida adulta.

A criança vê um exemplo, recebe o estímulo e logo o reproduz. E ela não só reproduz essa vida capitalista, como também pode reproduzir atos ainda mais graves. Se uma pessoa bate o carro, fica estressada e nervosa, logo acende um cigarro para descarregar todo seu processo ansioso, sua raiva e frustração pelo acidente em uma tragada. Assim, pode acontecer quando uma criança vê seu pai chegando do trabalho às sextas-feiras, cansado e esgotado por sua jornada de trabalho e falar: “Hoje, vou beber! Eu mereço, preciso aliviar meu estresse; afinal, é sexta-feira!”. Esses dois cenários descritos são simples, mas são o que as crianças têm visto, aprendido e, por vezes, reproduzido. Quando elas assistem a essas cenas, aprendem que para lidar com as frustrações, com as exigências e cansaço que o mundo apresenta é preciso usar de artifícios externos, como drogas lícitas, para conseguir sobreviver.

Medo de ser rejeitado pelos filhos

Qual benefício esse ser humano ganha quando lhe é apresento o mundo dessa forma? Qual o mal disso? Se a criança não aprender a lidar com os ‘nãos’ e com as frustrações, quando crescer, usará os mesmos mecanismos que os adultos lhe apresentaram para “suportar” as dificuldades do mundo. Pode ser que usem, com mais intensidade que os pais, drogas lícitas e até ilícitas. Talvez não saibam conviver com pessoas, pois não saberão lidar com os possíveis ‘nãos’ que elas lhe darão, e assim por diante.

É impossível traçar a vida de uma criança e dizer em que ela se tornará. Mas tenha uma certeza: dizer ‘não’ pode salvá-la e auxiliá-la a ser uma grande pessoa quando crescer. Não tenha medo dos seus medos. Os ‘nãos’ que muitos adultos têm medo de dar aos filhos são por medo de serem rejeitados ou por quererem dar aos pequenos tudo o que não tiveram. Enfrente sua história, seus medos, diga ‘não’ a você e a seus filhos e verá que muita coisa vai mudar!

Aline Rodrigues