A Liturgia das horas proporciona um ritmo diário de oração
A Liturgia das Horas é uma forma de oração ritmada ao ciclo das horas canônicas: Ofício das leituras, Laudes, Hora Média, Vésperas, Completas.
Ritmo é uma boa palavra para definir a postura de quem deseja criar o hábito de viver a Oração das Horas. A organização interna da oração nos dá um ritmo diário, um ritmo semanal, mensal e anual.
O ritmo diário é a própria divisão das horas canônicas, já o ritmo semanal é dividido em saltérios que dividem-se em quatro semanas, e tudo isso nos dão um ritmo mensal para a oração dos salmos e cânticos, tudo de acordo com o ritmo anual, que são os tempos litúrgicos: Advento, Natal, Tempo Comum, Quaresma e Páscoa
Quem pode rezá-la?
Todos os fiéis podem rezar a Liturgia das Horas, para Padres e religiosos de diversas congregações a vivência da Oração as Horas é obrigatória. Essa forma de oração é um meio eficaz para santificação do nosso dia.
Por conta do ativismo e da correria, na qual estamos inseridos, a oração da Liturgia das Horas apresenta-se como um remédio que nos insere na escola da escuta, do silêncio, da reflexão e da meditação da Palavra de Deus por meio dos salmos, cânticos e textos bíblicos propostos.
Os frutos da oração bem meditada
Na Audiência Geral do dia 07 de março de 2012, o hoje Papa emérito Bento XVI falou da dinâmica de palavra e silêncio, que caracteriza a oração de Jesus em toda a sua existência terrena, sobretudo, na Cruz. Realidade que diz respeito, também, à nossa vida de oração. Segundo ele, podemos pensar tal realidade em duas direções.
A primeira, diz ele, é a que se refere ao acolhimento da Palavra de Deus. É necessário o silêncio interior e exterior para que, tal palavra, possa ser ouvida. E esse é um ponto, particularmente, difícil para nós, no nosso tempo. Com efeito, é uma época na qual não se favorece o recolhimento. A impressão é de que as pessoas têm medo de se separar, mesmo por um instante, do rio de palavras e de imagens que marcam e enchem os dias. Por isso, afirmou o Papa, na Exortação (Verbum Domini, n. 66) recordei a necessidade de nos educarmos para o valor do silêncio: “Redescobrir a centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja significa também redescobrir o sentido do recolhimento e da tranquilidade interior. A grande tradição patrística ensina-nos que os mistérios de Cristo estão ligados ao silêncio e só nele é que, a Palavra pode encontrar morada em nós, como aconteceu em Maria, mulher inseparável da Palavra e do silêncio.”
Este princípio que: sem silêncio não se sente, não se ouve, não se recebe uma palavra, sobretudo, é válido para a oração pessoal, mas também, para as nossas liturgias, facilitando uma escuta autêntica, e elas devem ser também ricas de momentos de silêncio e de acolhimento não-verbal. É sempre válida a observação de santo Agostinho: “Quando o Verbo de Deus cresce, as palavras do homem faltam” (cf. Sermo 288, 5: pl 38, 1307; Sermo 120, 2: pl 38, 677).
Os Evangelhos apresentam com frequência que, nas escolhas decisivas, Jesus retira-se totalmente sozinho, num lugar afastado das multidões e dos próprios discípulos, para rezar no silêncio e viver a sua relação filial com Deus. O silêncio é capaz de escavar um espaço interior no nosso íntimo, para ali fazer habitar Deus, para que a Sua Palavra permaneça em nós, a fim de que, o amor por Ele se arraigue na nossa mente, no nosso coração, e anime a nossa vida. Portanto, a primeira direção: voltar a aprender o silêncio, a abertura para a escuta, que nos abre ao próximo e à Palavra de Deus.
Porém, há uma segunda importante relação do silêncio com a oração, afirma o Papa Bento. Com efeito, não há apenas o nosso silêncio para nos dispor para a escuta da Palavra de Deus. Muitas vezes, na nossa oração, encontramo-nos diante do silêncio de Deus, experimentamos quase um sentido de abandono, parece-nos que Deus não ouve e não responde.
Mas esse silêncio de Deus, como aconteceu também para Jesus, não marca a Sua ausência. O cristão sabe bem que o Senhor está presente e escuta, mesmo na escuridão da dor, da rejeição e da solidão. Jesus garante aos discípulos e a cada um de nós que: “Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais, antes que vós lho peçais” (Mt 6,7-8); um coração atento, silencioso e aberto é mais importante do que muitas palavras. Deus conhece-nos no íntimo, mais do que nós mesmos e ama-nos, e saber disso deve ser suficiente.
Na Bíblia, a experiência de Jó é, particularmente, significativa a esse propósito. Em pouco tempo, esse homem perde tudo: familiares, bens, amigos e saúde. Até parece que, a atitude de Deus no que lhe refere é a de abandono, do silêncio total. E, no entanto, Jó na sua relação com Deus fala com Ele, clama a Deus. Na sua oração, não obstante tudo, conserva intacta a sua fé e, no fim, descobre o valor da sua experiência e do silêncio de Deus. E assim, no final, dirigindo-se ao Criador, pode concluir: “Eu tinha ouvido falar de Ti, mas agora são os meus olhos que te veem” (Jó 42,5); todos nós conhecemos a Deus, quase só por ter ouvido falar d’Ele, e quanto mais abertos permanecemos ao Seu e ao nosso silêncio, tanto mais começamos a conhecê-Lo realmente.
Essa confiança extrema que, se abre ao encontro profundo com Deus, amadureceu no silêncio. São Francisco Xavier rezava, dizendo ao Senhor: “Eu amo-Te, não porque podeis conceder-me o paraíso, ou condenar-me ao inferno, mas porque Vós sois o meu Deus. Amo-vos porque Vós sois Vós!”.
Assim, com essas direções colhidas dos ensinamentos do Papa, abramo-nos à experiência da Oração das Horas.
Deus abençoe você!
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