Podemos entender a segunda vinda de Cristo como parte essencial da nossa história de salvação
Ao falar da vinda de Cristo, São Bernardo de Claraval lembra-nos da vinda intermediária que se dá entre a primeira, aquela da Encarnação, e a segunda, aquela conhecida como Parusia. A vinda intermediária é a que se dá por meio dos sacramentos, por meio da presença do Senhor em nós. De fato, diz as Escrituras: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (cf. Jo 14,23).
Segundo São Bernardo, na vinda intermediária cada um percebe o Cristo em si mesmo e recebe a salvação. Diz ainda que, na primeira vinda, o Senhor veio na fraqueza da carne; na intermediária, vem espiritualmente, manifestando o poder de sua graça; na última, virá com todo o esplendor de Sua glória. Cabe a nós a reflexão sobre essa última, conhecida como a segunda vinda de Cristo, aquela da Parusia, do esplendor de Sua glória.
O sentido de glória, aqui, não quer em nada diminuir o sentido da primeira vinda na Encarnação em humildade e na força de Seu amor, mas ressaltar a seguinte verdade: o Cristo que virá na glória é o mesmo no brilho de Sua humildade, bondade e justiça. O Cristo que virá na glória aparecerá com a mesma vontade de salvar a todos, o que não significa a aceitação de todos. Assim, a Parusia, de certa forma, é a consumação da Encarnação.
O que encontramos nas Sagradas Escrituras sobre a segunda vinda de Cristo?
Para entramos neste tema, vamos pensar a criação. Entendamos que, ao falar de criação, isso não quer significar que o mundo teve origem no tempo, mas que o tempo passou a ter origem com o mundo. A criação é um evento para além do espaço e do tempo, e não podemos pensá-la apenas tendo em vista essas duas categorias que tornam possível a história humana. O mundo foi criado por Deus com o tempo e não no tempo. O mundo, o espaço e o tempo se originam da vontade eterna e criadora de Deus. Assim como na criação (cf. Gn 1,1s), a consumação (cf. Mc 13,4.24s.29ss) do mundo se dará também com o tempo e o espaço, e não no tempo e no espaço, portanto, não os devemos pensar nos limites de nossa forma de conhecer.
A consumação deste mundo se dará na experiência da Ressurreição de Jesus e de cada um de nós, não mais de maneira presa às categorias deste mundo, será uma realidade que se dará no mundo, mas que estará para além dele. Ou seja, será uma realidade histórica, mas que a transcenderá.
O que diz o Catecismo da Igreja Católica?
A volta gloriosa de Jesus é um evento ligado ao Juízo Final/Universal (cf. n. 1040-1042). Sobre quando isso se dará, nem o Catecismo afirma, apenas diz que “só o Pai conhece a hora e o dia desse Juízo”. Por meio do Filho, Ele pronunciará Sua palavra definitiva sobre toda a história.
O Catecismo ainda afirma que “a partir da Ascensão, a vinda de Cristo na glória é iminente, embora não nos ‘caiba conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade’ (At 1,7)… antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma provação final que abalará a fé de muitos. A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na Terra, porá a descoberto o ‘mistério da iniquidade’, sob a forma de uma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade” (n. 674-675).
Nós, como cristãos, vivamos este tempo em esperança e vigilância, na certeza de que a Igreja só entrará na glória do Reino por meio dessa derradeira Páscoa, em que seguirá o seu Senhor em Sua Morte e Ressurreição. O triunfo de Deus sobre a revolta do mal assumirá a forma do Juízo Final depois do derradeiro abalo cósmico deste mundo que passa, como afirma o Catecismo (n. 677).
Assim, podemos entender a segunda vinda de Cristo como parte essencial da nossa história de salvação. Enquanto Ele não vem, temos de escolhê-Lo todos os dias, sem negar Sua graça em nós, para não nos tornarmos “juízes” de nós mesmos, negando a graça de Cristo em nós, o que seria algo terrível e triste. O que queremos são as alegrias da vida eterna em Deus.
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