“Sentinelas da conversão e da esperança; sentinelas da fraternidade; sentinelas da reconciliação e do perdão.”

SENTINELAS DA PAZ
Homilia na Peregrinação Jubilar dos Jovens ao Santuário de Fátima

Viestes em peregrinação celebrar o jubileu do centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, com o lema “o segredo da paz, o caminho do coração”. É um tema central na mensagem da Senhora. Aqui, no inesquecível 13 de maio passado, o Papa Francisco confiou-nos um mandato: “Sede sentinelas da madrugada”. Vós quereis hoje manifestar que aceitais o desafio de ser sentinelas do amanhecer da paz no coração de cada um e no coração do mundo.
A primeira leitura do profeta Ezequiel começa precisamente com esta frase “Filho do homem, coloquei-te como sentinela na casa de Israel”. Podemos considerá-la dirigida a cada um de nós. Sentinela é uma palavra que permite abarcar a mensagem das outras leituras e sintetizar o caminho da paz. Fá-lo-ei telegraficamente em três pontos: sentinelas da conversão e da esperança; sentinelas da fraternidade; sentinelas da reconciliação e do perdão.

Sentinelas da conversão e da esperança
A imagem da sentinela é muito sugestiva. Está sempre alerta, à escuta e de olhos abertos, dia e noite, observa o horizonte da história e da alma humana, descobre os sinais do(s) tempo(s), isto é, os sinais de esperança ou de perigo e avisa o povo. Ao profeta Ezequiel, o Senhor pede-lhe para transmitir ao povo a sua palavra, para o assegurar de que Deus não o abandona, para o fortalecer na fé num tempo confuso e incerto. Ao mesmo tempo adverte o povo de que caminhará para a ruína se abandonar o seu Deus. Por isso chama-o à conversão do coração, à reconstrução espiritual e moral da vida. Só o que passa pelo coração transforma a vida. Não há verdadeira paz sem esta conversão. Isto é fonte de esperança, porque é possível a mudança, mudar o mundo!
Caros amigos, quereis renovar o vosso ato de fé viva? Estais dispostos a responder ao convite a ser sentinelas da conversão e da esperança? Que projeto de conversão cada um de vós pode levar? Que intenção de mudança quer formular?

Sentinelas da fraternidade
S. Paulo por sua vez indica-nos mais um caminho da paz: “Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para os outros”. Não basta dizer “eu não mato, não roubo, não faço mal”. É preciso amar sempre. Eis a caridade cristã; e daqui deriva a missão de ser sentinelas da fraternidade hoje tão necessária.
A globalização atual quebra distâncias, torna-nos mais próximos, mas não nos faz irmãos. A fraternidade recorda-nos que somos todos filhos do mesmo Pai que nos ama e conforta. Hoje predomina a cultura da indiferença e do descarte face ao outro: “que me importa? Não é comigo. É problema dele. Cada um que se arranje”. Face à cultura da indiferença e do descarte é necessário promover a cultura do encontro, da vida fraterna em comunidade.
Na fraternidade cada um é para o outro o irmão atento e disponível. Isto leva-nos a ser os primeiros a amar, a ir ao encontro do outro mais necessitado, a estender a mão, a partilhar a alegria e o sofrimento, a acolher e a dialogar com todos, a estender pontes, a encorajar a viver a vida boa do evangelho. O que muda muitas pessoas não são as grandes ideias ou pensamentos, mas o terem-se encontrado com alguém que se aproximou em atitude de acolhimento e amizade e as ajudou a renovar-se!
Quereis caminhar juntos e ajudar-vos como irmãos? Quereis pôr os vossos talentos ao serviço dos necessitados, dos mais vulneráveis, em forma de voluntariado?

Sentinelas da reconciliação e do perdão
Em nome do amor fraterno, Jesus, no evangelho, indica a misericórdia como absolutamente necessária nas relações entre irmãos. Pede que no meio das tensões, conflitos, contendas e ofensas na vida quotidiana permaneça e prevaleça a busca da reconciliação e do perdão sobre a tentação de vingança, de violência, de ódio, de rancor. Jesus pede que se faça todo o possível para que quem se perdeu reencontre o caminho da vida e que quem ofendeu o irmão reencontre o caminho da reconciliação e do perdão. Que seria de nós e do mundo sem o perdão e a reconciliação, a começar dentro das próprias famílias? Não haveria paz!
Caros amigos, Nossa Senhora de Fátima veio lembrar aqui estes caminhos da paz, o segredo da paz. Com ela sede sentinelas da paz, construí-a artesanalmente dia a dia na família, na escola, nos vossos ambientes e a paz não será uma miragem. Confio-vos ao cuidado da Mãe. Que ela vos abençoe, proteja e acompanhe com o seu auxilio materno!
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima

Nuno Nogueira
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